terça-feira, novembro 29, 2005

Crianças da Noite

A música agitada comum àquele lugar dominava o ambiente, o que tornava quase impossível o estabelecimento de qualquer diálogo entre duas pessoas naquele lugar, assim como luzes coloridas eram refletidas na fumaça gerada por gelo seco e mesmo cigarros. Os olhos procuravam entre as pessoas distraídas em dançar, flertar ou consumir alucinógenos uma garota em especial, que sabia estar naquele lugar naquela noite.

Não foi difícil encontrá-la – e aquilo não era tão típico de seu comportamento? Estava dançando como se o mundo fosse acabar no momento seguinte, em cima de um degrau, as mãos lascivamente apoiadas em uma pilastra logo em sua frente. Os saltos plataforma das sandálias destacavam ainda mais o corpo miúdo, assim como a saia de borracha preta que deixava pouco a ser imaginado, o corpete vermelho e o enorme crucifixo em seu pescoço. Era o estilo de uma adolescente entre o gótico e o fetichista.

A maneira como se insinuava enquanto dançava seria capaz de seduzir até mesmo algum objeto inanimado, não demoraria muito para que ela conseguisse cumprir seu objetivo. Precisou ser rápido – e ter uma dose de coragem extra – para subir no degrau exíguo e começar a dançar, seu corpo próximo ao dela, suas mãos segurando a cintura de sílfide, os quadris que se aproximavam em um movimento semelhante ao que fariam caso estivessem a sós em uma cama...

O homem aproximou seus lábios do ouvido da moça e disse, suavemente:

- Criança da noite...

A música eletrônica em um volume altíssimo não a impediu de ouvir as palavras, de sorrir para
seu interlocutor e responder:

- Todos nós o somos...

Uma das mãos percorreu o caminho abaixo da cintura da garota, enquanto a outra fazia o rumo inverso. Coube a ela apenas sorrir e continuar dançando, dessa vez, caso isso fosse possível, de uma maneira ainda mais lasciva do que a anterior.

- Um corpo produzido para a sedução e para o pecado... – Ele voltou a sussurrar em seu ouvido.

Ela apenas sorriu.

- O limiar entre pecado e prazer é mínimo... E às vezes é apenas questão de ponto de vista...

Continuaram a dançar, os corpos seguindo o compasso ditado pelas batidas da música.

- Está aqui não para procurar um parceiro, mas sim uma presa, estou certo?

Ela simplesmente sorriu.

- É tudo uma questão de ponto de vista, não?

A garota virou-se. Precisou erguer os olhos para poder ver melhor o homem sombrio e sisudo que a apertava junto de si. Continuou a dançar, insinuando-se cada vez mais, aproveitando a música e o ambiente.

- Filha das Trevas, criatura demoníaca que se esgueira pelas sombras... Há quantos séculos não tenta os filhos dos humanos? Não seduz jovens em lugares como esses apenas para provar de seu sangue...

A moça parou de dançar. Fitou um tanto surpresa os olhos que a encaravam seriamente e apenas disse, enquanto sorria um tanto cinicamente:

- Não sabe o que é sentir o gosto da eternidade em seus lábios...

Foi a vez dele gargalhar e dizer levemente ao pé do ouvido da garota:

- E você saberá agora o que é a morte...

A música alta, a fumaça e as luzes coloridas camuflaram o corpo que se ajoelhava onde antes pouco dançava, os olhos vidrados pela surpresa, o pescoço cortado por uma adaga rápida e imprevisível. Antes que qualquer pessoa percebesse que estava ali, certamente já teria virado pó e encerrado sua existência neste mundo...

A boate já não o interessava mais. A única música que escutava era o som de alguns poucos carros que passavam pelo asfalto; a única luz, a lua cheia que eclipsava as luzes da cidade. Mais um dia de sua luta, mais uma missão para banir para o inferno os demônios deste mundo. Teria de enviar um relatório para a Ordem de São Miguel de suas atividades de eliminação, sem dúvida a bela e fetichista garota estaria incluída no próximo.

Afinal, era sua missão escolhida quando ordenara-se.

Padre Alexander Harker. Caçador de vampiros.

***

O título original era "murder on the dancefloor", mas ficaria muito na cara :D

Até a próxima ;-)

terça-feira, novembro 22, 2005

Aceitação

Desde o meu primeiro momento, me senti como uma peça solta em um lugar que não era o seu.

As risadas de minhas irmãs ecoavam no ar, enquanto elas se davam as mãos e brincavam de roda entre as flores em um dia de verão. Os raios de sol refletidos nas pétalas macias das flores tornavam o ambiente ainda mais bonito e feliz, junto da alegria das garotas... Os vestidos coloridos também brilhavam e faziam com que elas se misturassem com as flores, como se fossem mais uma delas.

Vai ver até eram realmente flores, que só faziam sentido existir se estivessem junto delas. Ou melhor, todos éramos seres das flores. Para os humanos tínhamos muitos nomes, talvez o mais comum deles fosse fadas...

E nesse próprio nome já residia minha condição e minha diferença.

A maioria dos meus iguais eram mulheres. Minhas irmãs, que dançavam alegremente em minha frente, cujas asas brilhavam banhadas de sol, eram mulheres. Conheço muito bem minha posição: somos seres da natureza e funcionamos de acordo com suas regras, minha função neste mundo é a de, quando for o momento, ajudar a Rainha a produzir mais irmãs. É para isso – e somente para isso – que os pouquíssimos machos de nossa espécie existem, para tornarem-se consortes.

A maioria das pessoas costuma resignar-se com o destino que a natureza lhe impõe, mas não conseguia aceitar o meu, apesar de conhecê-lo desde o momento em que despertei para este mundo. Gostaria de poder ser muito mais do que aquilo reservado para mim. Invejava a diversão de minhas irmãs, as risadas que ecoavam no ar enquanto estava eu sentado em uma folha. Elas tinham algo que eu nunca teria: podiam manipular os elementos e criar, com a força que a tudo rege e, por estar muito além da compreensão daqueles que vivem convencionou-se chamar de magia, novas coisas a partir do já existente.

Apesar de ter a aparência física bem semelhante à delas, não tinha a mesma força ou a mesma capacidade. O sentimento de não me aceitar, de querer um sentido maior para aquilo que eu sou, de querer lutar contra o que a própria natureza tinha reservado para mim, estava sempre presente em meu coração. Não sabia descrevê-lo, dar-lhe um nome, colocá-lo em uma categoria. Queria mudar, queria que minha realidade e existência fossem mais do que uma função não muito mais do que decorativa. Queria ir muito além da condição que meu gênero impunha, nem que para isso precisasse desafiar a minha própria natureza.

Queria apenas um lugar para mim, um lugar onde eu fosse uma peça que se encaixasse.

***

Até a próxima. ;-)

sábado, novembro 19, 2005

Terras Secretas: Capítulo 4 - A Chegada

Três pares de olhos atentos observavam as ondas do mar logo abaixo deles, o que causava uma certa sensação de desconforto momentâneo. Já fazia algumas horas que estavam naquele helicóptero, não estavam entendendo muito bem o que estava acontecendo, a única coisa que tinham certeza era de que o projeto Terras Secretas, tão falado por aqueles cientistas estranhos, tinha finalmente se iniciado. Melhor assim, quanto mais cedo começa, mais cedo termina; era o pensamento comum.

- Tô com fome. – Reclamou o adolescente magricelo de boné, apoiado em uma janela.

- E era ontem que finalmente José Manuel assumiria seu amor por Clara Regina e eu perdi o capítulo! – Uma adolescente gordinha disse, contrariada.

- Era ontem? E a Silvana, não tinha armado para Clara Regina e dito que estava esperando um filho do José Manuel? – Esquecendo-se da fome, Marcelo continuou a render o assunto.

- Não, no capítulo de anteontem o Ricardo a chantageou para que contasse o segredo para ele, assim os dois poderão juntos destruir Clara Regina e se apossar de sua fortuna!

- Ah, só...

Em seu canto, um adolescente ligeiramente acima do peso polia as grossas lentes de seus óculos com sua camiseta, suspirando profundamente ao ouvir o assunto discutido. Ignorância da massa cegada por tramas medíocres! Olhou rapidamente para seus braços após colocar os óculos. Tinha ouvido no dia anterior acerca de chips para interpretação da programação do jogo, mas não via marca nenhuma de onde poderiam ter sido implantados. Coisa estranha, não se lembrava de muita coisa também desde a reunião no dia anterior até o momento em que se dera conta de que estava em um helicóptero...

- Escutem... Acaso sentiram algum efeito colateral advindo da suposta incisão responsável pela implantação de chips em nosso organismo ontem?

- Putz, cara, do que que você ta falando? – Marcelo disse, erguendo uma sobrancelha inquisitoriamente.

- Acaso notou alguma reação anormal de seu organismo desde ontem?

- Pô cara, não tamos na escola não, não precisa falar essas coisas de matéria de aula que ninguém entende!

- Esquece, vai. – O garoto respondeu contrariado, voltando a procurar por alguma marca em seus pulsos. Teria de conviver com aquilo pelos próximos dias? A simples perspectiva lhe apavorava mais do que qualquer coisa que pudesse lhe ocorrer no tal jogo.

Por sua vez, uma menina morena adormecida encolhida na poltrona ouvia vozes ao longe... Talvez as vozes e o pequeno diálogo tinham despertado a voz de sua consciência. O que estava acontecendo? Tinha ido para a escola, depois saído com a Renata para o fliperama como sempre e depois... Não conseguia se recordar com exatidão. Parecia um sonho meio doido, tinha sido levada por seguranças até a fábrica de cosméticos, depois não conseguia se lembrar exatamente o que tinha acontecido. Ao abrir os olhos, sua mente demorou um pouco para interpretar o que estava acontecendo: Renata olhava para ela com uma expressão preocupada, dois meninos estranhos que nunca tinham visto olhavam pelas janelas e... hã... estava... em um... helicóptero?

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?- Levantou em um pulo.

Os três outros acompanhantes do vôo assustaram-se com o grito repentino, enquanto Letícia se levantava e andava de um lado para o outro no exíguo vão entre as poltronas. O garoto de óculos no canto limitou-se a responder, com voz baixa e um tanto sarcástica:

- É tão complexo para um intelecto de indivíduos como vocês a simples percepção dos fatos? Estamos em um helicóptero em algum ponto sobre o Atlântico nesse momento.

- Não adianta vir bancar uma de cdf pra cima de mim não, seu idiota, não preciso desse blábláblá todo! – Letícia disse, avançando sobre ele já com os punhos fechados e se preparando para a pancada.

- Aqui não, sua maluca! – Marcelo puxou-a de volta para o banco. – Quer que a gente vire comida de tubarão?

- Letícia, ele tá certo, é melhor você ficar quieta agora, depois você resolve isso... – Renata disse, a preocupação totalmente perceptível em sua voz.

Ao perceber que realmente aquele não era momento de comprar brigas, a garota encolheu as pernas e abraçou-as em sue lugar, controlando-se para engolir toda a sua raiva. Era melhor chegarem onde quer que tivessem que chegar para depois acertar suas contas com aquele idiota que falava palavras complicadas só pra se mostrar.

Renata, por sua vez, olhava de um lado para o outro. Agora se lembrava, na reunião na noite anterior tinha um outro rapaz, mas só via aqueles dois ali! Será que estava enganada? Não, tinha certeza de que não, tinha visto!

***

Em algum ponto sobre o Atlântico, um helicóptero fazia barulhos ainda mais intensos do que o bater de hélices normal. Era pequeno, um modelo menor e mais antigo do que aquele em que os outros quatros jovens eram conduzidos até a ilha e estava sendo guiado pelo piloto automático. Havia apenas um tripulante a bordo, um garoto chamado Igor, que nesse momento, ao perceber além do barulho estranho um cheiro característico que queimado e ter a impressão de ter visto fumaça preta, teve por única reação ajoelhar-se no chão, juntar as mãos e dizer:

- Pai nosso que estais no céu...

Caso conseguisse terminar aquele dia vivo, já estaria muito satisfeito...

***

Depois de muito tempo e uma discussão produtiva entre Renata e Marcelo sobre fofocas de artistas – para desespero dos outros dois companheiros -, finalmente podiam ver um pontinho verde a frente que só fazia crescer. A noveleira, primeira a perceber a novidade, disse:

- Olhem, é a ilha!

- Finalmente – disse o menino de óculos.

- Já não era sem tempo – Letícia disse, ainda encolhida, sem olhar pela janela.

- Só, cara... – Marcelo comentou.

Quando finalmente se aproximaram, puderam ver várias árvores de um verde brilhante e convidativo, além de uma esplêndida cachoeira. Uma revoada de pássaros silvestres terminou de coroar o cenário perfeito, um ilha tropical paradisíaca bem ao gosto de milionários excêntricos construírem parques temáticos mais excêntricos ainda.

Sem maiores problemas o helicóptero aterrissou na pista de pouso e alguns seguranças meio parecidos com guarda-roupas padronizados abriram a porta do aparelho para que pudessem sair. Tudo dava a entender que eles estavam na cabine da máquina, mas eram tão discretos que nem se fizeram perceber...

A primeira reação de todos os quatro ao colocar finalmente os pés no solo foi arregalar os olhos para apreciar a bela vista – além de sentirem seus queixos caírem. Certamente era o lugar mais bonito que cada um deles já tinha visto na vida, era talvez o mais próximo do conceito comum de paraíso que podia haver. Só faltavam mesmo as palmeiras onde cantavam os sabiás, mas com sorte algum cientista do centro de observação se ateria a esse fato e as providenciaria.

Todo deslumbramento inicial foi rompido, porém, por um helicóptero meio torto, as asas com uma rotação estranha e muita fumaça e com o barulho característico de um fusca velho pousou e, mais do que depressa, um adolescente visivelmente aliviado abriu a porta - que se soltou e ficou no chão – e ajoelhou no solo, beijando-o sem parar:

- Senhor, obrigado pela graça alcançada... – Era tudo o que conseguia repetir.

Não demorou muito para que os seguranças o segurassem e levassem até junto de seus companheiros, jogando-o de qualquer jeito no chão, onde parou ajoelhado. Os outros quatro olharam espantados para a cena, ainda se acostumando com a idéia de estarem numa ilha paradisíaca após a longa viagem. Só foram definitivamente desligados do êxtase ao perceberem que os helicópteros davam partida e levantavam vôo, deixando-os sozinhos naquele lugar.

- Ei, esperem aí, vão nos deixar aqui desse jeito? – Letícia esbravejou.

- Pelo jeito já deixaram, né... – Renata comentou.

- Pô, cara... Que triste isso! – Resmungou Marcelo enquanto observava os helicópteros se tornarem pontinhos e posteriormente sumirem no horizonte.

- Obrigado, Deus, obrigado... – Era tudo o que Igor conseguia dizer.

O garoto de óculos, por sua vez, apenas suspirou. Após alguns minutos e a certeza de que ela aquilo mesmo, que realmente tinham sido deixados sozinhos naquele lugar, Igor puxou o assunto:

- Acho que seria legal nos apresentarmos... Meu nome é Igor.

- Marcelo.

- Renata.

- Letícia.

- Elton.

- E agora, o que fazemos? Uma fogueira, talvez? – Igor perguntou.

- E se tiver algum bicho perigoso aqui? – Marcelo perguntou, assustado.

- E você tem medo de bichos, sua frutinha? – Letícia disse, com um tom provocativo.

- Não sou frutinha!

- Ah, não... Nem chegou aqui e já está morrendo de medo de bichos!

- Quem deveria ter medo era você, você é menina, meninas têm medo de bichos!

- Eu vou te mostrar quem aqui tem medo de alguma coisa!

- Pessoal... – Renata disse antes da briga realmente esquentar. – Aquilo ali não é uma trilha?- Disse, apontando para uma direção.

- Talvez fosse conveniente segui-la. – Elton disse, coçando o queixo.

- Ta certo, cara. Vamos? – Igor disse, já seguindo na direção indicada.

Os cinco não mostraram resistência em segui-lo. A trilha era composta de pequenas pastilhas de pedra brilhantes, rodeada por florzinhas e vez ou outra eram acompanhados por borboletas. Não demorou muito para avistarem algumas construções que se pareciam com casas dispostas em um semicírculo, com um chafariz luminoso onde deveria ser o centro.

Apertaram o passo para chegar lá o mais rápido possível, mas foram surpreendidos por um acontecimento inesperado: na frente deles, onde antes não havia nada, materializou-se um ser grande, de pele escamosa, garras afiadas e grandes presas capazes de dilacerar corpos juvenis em questão de segundos!

- AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! – Foi a única reação dos cinco adolescentes.

***

Atrasado, mas aqui. ;-)

terça-feira, novembro 15, 2005

Luz e Sombra

A grande lua cheia era como uma luz de prata no céu noturno, como uma jóia responsável por afastar a escuridão. Olhando para os humanos logo a seus pés, porém, era perceptível que tinham encontrado sua própria maneira de afastá-la: muitas luzes, das mais diferentes cores, formas e intensidades, formavam um dia artificial na grande cidade. Os habitantes dela andavam de um lado para outro tal qual formigas, não interessava ser tarde da noite, era como se realmente o dia nunca tivesse um fim.

Os dois seres estavam sobre a cobertura do maior prédio daquele centro comercial, observando o que ocorria a seus pés. Aquelas eram as jóias do Criador, as criaturas tentadas pela Serpente e expulsas do Éden eras atrás. Os seres dotados dos maiores dos dons: mortalidade e livre-arbítrio. Invejavam-nos.

- Essas são as jóias do Criador... Tão frágeis, dotados apenas do sopro de uma vida breve... – Disse a criatura feminina, contemplando-os.

- Do que adianta sermos imortais se não somos livres? A pouca liberdade que temos nos faz necessariamente escolher um lado ou o outro de uma guerra que não começamos?

- Não esperava vê-lo novamente – Disse ela com um sorriso nos lábios.

- Está tão linda quando do último dia em que nos vimos... Quanto tempo já faz?

- Muito mais do que uma mente humana poderia mensurar, mas para pessoas em nossa situação... Não faz muita diferença. – Os cachos louros refletiam a luz do luar.

- Você está certa.

Ficaram em silêncio por alguns minutos, observando o ir-e-vir das pessoas abaixo deles. A agitação da grande metrópole não podia parar, muito tempo as atribuições do mundo moderno. Eram poucos aqueles que, por alguns minutos, tentavam prestar atenção naquilo que acontecia ao seu redor.

- Tenho inveja deles. – O ser feminino disse.

- E eu, pena. – Foi a resposta do ser masculino.

- Por que pena?

- E por que inveja?

- Porque eles são livres para fazerem suas próprias escolhas. Porque eles não participam de uma guerra que pune ferozmente aqueles que ousam ter uma opinião própria. Porque eles são os seres mais preciosos de toda a Criação, mas não têm consciência disso. Porque a eternidade deles é bem diferente da nossa...

- Sabe que é justamente por isso que tenho pena? Eles se esqueceram disso. Ficaram tão maravilhados com suas próprias criações que se esqueceram de sua própria essência. Já não podem nos ver ou sentir caso passemos perto deles, já não sabem seu lugar entre as esferas e planos, já não pressentem a eternidade destinada a eles. E mesmo o dom da mortalidade é desperdiçado com mesquinharias...

A existência feminina riu baixinho.

- O que foi? – Inquiriu seu acompanhante.

- Acho que ao perceber o que sentimos diante deles fica óbvia qual foi a escolha que fizemos.

Foi a vez da existência masculina rir.

- Não sente saudades do Céu?

- Um pouco. Mas fui punida por pensar demais, caso não se lembra. Cortaram minhas asas e me atiraram fora... É assim que fazem com aqueles diferentes, marcam-nos como demônios e depois os banem.

- Não acho o Céu tão cruel quanto vocês fazem parecer. Você mesma disse que é tudo uma questão de escolha e que somos impelidos a fazê-la. A minha continua a ser estar junto dos outros iguais a mim.

- Manipulado... – Disse ela com desdém.

- Todos os lados são manipulados, minha querida... Agora, tenho afazeres no Céu... Voltaremos a nos encontrar em breve.

O anjo estendeu suas longas asas brancas antes de partir, deixando a demônio nostálgica acerca das asas brancas que perdera um dia. Certamente se encontrariam de novo nos tempos de paz, mas quando a guerra começasse, sabia que os discursos entre eles seriam bem diferentes...

***

E até mais! ;-)

terça-feira, novembro 08, 2005

Escolha

Estava sentado, parado, apoiado na parede. O barulho das máquinas naquele quarto era a trilha sonora sempre constante, as luzes nos aparelhos demonstravam seus sinais vitais. Podia ver a bomba que subia e descia no ritmo cadenciado de sua respiração, já não tinha forças para inspirar. Na verdade, já não tinha forças para abrir seus olhos, tudo era um pesadelo escuro de onde não podia simplesmente despertar.

Observava seu corpo estirado naquela cama de hospital. Lembrava-se apenas de estar junto com as tropas, estavam sendo deslocados para eliminar um grupo de rebeldes naquela guerra civil que já durava tantos anos... Pisou em falso e tudo ficara escuro, desde então tivera apenas alguns lampejos de consciência durante os dias (ou semanas, ou meses) em que estava ali. Os tubos na boca o impediam de se comunicar, já não havia mãos que pudesse mexer, os olhos já não queriam enxergar.

Continuou apoiado naquela parede branca e fria do hospital enquanto olhava para seu corpo inerte logo à sua frente. Alguém ainda ousava chamar aquilo de vida? Estava ainda preso a seu corpo, mas já não vivia. Todavia, não ganhara ainda a libertação da morte.

Porém, como se finalmente suas preces tivessem sido atendidas, uma garota de não mais do que doze anos, vestindo corpete preto e saia da mesma cor, os grandes olhos negros refletindo uma calma imensa. Sorria ao encostar a mão delicadamente branca em seu ombro.

- Clamaste tanto por minha presença, Mateus, estou aqui.

- Podemos ir embora logo, então?

- Ainda poderás escolher, terás tua última chance...

Nesse mesmo instante, uma equipe hospitalar entrou no quarto. Eram três homens e duas mulheres um tanto diferentes dos médicos que estava acostumado a ver ou das enfermeiras que vez ou outra monitoravam seus estáveis sinais vitais, eram completos desconhecidos que invadiam seu quarto. Podia ouvir um deles, carregando um palmtop, dizer:

- É o soldado identificação 0857442 da seção 5. Perdeu os membros superiores e inferiores, perdeu totalmente a visão e sofreu queimaduras pelo corpo. Uma cobaia perfeita para a operação Endo Machina para o soldado perfeito. A escolha seria passar o resto da existência em coma, até o dia em que os aparelhos sejam requisitados para uma vida que tenha o real potencial de ser salva.

De um carrinho, alguns pedaços de um metal que não pôde reconhecer foram retirados. Eram parecidos com próteses e, pelo que pôde ouvir da conversa entre aqueles homens, era de uma liga metálica ultraresistente que o faria correr mais rápido que um homem comum, além de resistir a uma explosão de mina terrestre. Não haveria dinheiro a perder naquele projeto.

Era estranho observar a pouca carne que lhe restava ser rasgada e o som dos aparelhos que montavam suas novas pernas e braços. A garota a seu lado observava fixamente a cena, mas para ele era desconcertante observar o uso feito de seu próprio corpo.

- Ceifadora, por quanto tempo ainda profanarão meu corpo?

A menina apenas sorriu ao responder.

- Não sou ceifadora, cabe aos próprios humanos traçarem seus próprios rumos. A morte é certeza, aproximá-la ou afastá-la cabe aos viventes.

Continuou a observar a animada conversa dos cientistas, que abriam seu peito em busca de seu coração. Já não lhe seria útil um invólucro de carne, uma bomba controlada por energia auto-alimentável seria mais útil a um soldado perfeito do que a imperfeição orgânica. Colocou a mão no peito ao observar: em nome de um pretenso progresso, violavam seu corpo?

- A consciência será mantida? – Um dos cientistas perguntou.

- Restauraremos os olhos e aplicaremos um mecanismo eletrônico capaz de regular todas as funções do corpo, assim como um cérebro faria, ou até melhor. Será aplicada também uma inteligência artificial programável para o perfeito cumprimento das ordens em campo de batalha. Toda a consciência anterior será deletada, não fará diferença a nosso soldado.

Nesse momento, Mateus apertou a mão da garota a seu lado. A perfeição de um deus dentro da máquina era melhor do que a de um soldado que não conseguira fazer mais do que entrar em coma dentro de um campo de batalha, sua decisão já estava tomada. Disse calmamente enquanto observava as ferramentas prontas para abrirem seu crânio e implantarem a nova existência de seu corpo.

- Vamos embora, deixemos os homens e suas batalhas.

Calmamente, foram andando por um caminho de luz que se abria até desaparecerem. A
escolha feita era óbvia, afinal um espírito seria algo totalmente inútil e dispensável a um soldado perfeito.

***

Sexta-feira tem mais historinha! XD~
E até a próxima. :-)

sexta-feira, novembro 04, 2005

Terras Secretas - Capítulo 3: Fúria Adolescente

- Toma, seu desgraçado!

A frase, dita em voz alta, assim como as gargalhadas subseqüentes e as pancadas dadas na máquina ecoaram por todo o salão, como já estava se tornando um hábito diário. Era estranho ressaltar também que o fliperama, depois de tapas que o faziam literalmente levantar do chão, ainda estivesse funcionando depois de tanto tempo maltratado daquela maneira. Outra voz, um pouco mais calma e assustada, dizia:

- Letícia, vamos embora... Daqui a pouco é hora do almoço e depois tem a novela de depois do almoço, não posso perdê-la!

- Nós não vamos embora agora porque estou quase batendo meu recorde! MORRA, SER ESTÚPIDO QUE OUSOU ME DESAFIAAAAR!

As gargalhadas continuavam, assim como os tapas, para desespero da menina gordinha e tímida logo a seu lado. Todo mundo estava olhando para elas! Dava para parar com todo aquele exibicionismo pelo menos, antes que o dono do lugar colocasse seguranças para tirá-las dali?
Mas nada daquilo parecia incomodar a menina pequenina, de pele morena e dos longos cabelos encaracolados presos num rabo-de-cavalo. Era assim praticamente todos os dias, isso quando ela não gastava horas demonstrando seus talentos nas aulas de educação física ou arrumando brigas com outras pessoas. Difícil dizer qual dos meninos do colégio ainda não havia apanhado dela... Pelo menos o videogame de luta tinha diminuído um pouco todo aquele ímpeto de violência, agora dirigido à máquina.

Portanto, não foi surpresa quando dois seguranças engravatados e meio parecidos com guarda-roupas entraram pelo salão e forma diretamente para a máquina onde elas estavam, sendo que um deles perguntou:

- Senhorita Letícia Aguiar?

- MORRA, MORRA! HAHAHAHAHA!

- É ela mesma, senhor, mas nós logo iremos embora daqui, não precisa nos mandar embora!

Letícia, vamos, está na hora de ir...

- Já disse que não está na hora! – Letícia respondeu rispidamente.

Como se o segurança já esperasse por tal reação, rapidamente ele passou os braços por trás dos braços da garota, imobilizando-a enquanto ela percebia o que acontecia:

- Espera aí... Dá pra me soltar? Estou quase chegando nos noventa e nove milhões de pontos, o mais alto do ranking! – Não houve reação, então ela começou a espernear. – Isso é um abuso ao meu direito de ir e vir! ME SOLTA, CARAMBA! Você não pode fazer isso comigo, você não pode me levar assim, isso é um absurdo, isso é contra as leis...

Enquanto Letícia continuava a reclamar, o segurança, sem esboçar reação alguma, continuava a levá-la pelo grande salão até desaparecer pela porta. O segundo segurança observou a outra menina, presumivelmente morta de vergonha, de olhos vidrados no caminho percorrido pela amiga.

- Renata Ribeiro?

Não houve resposta, a menina estava literalmente paralisada. Era demais para ela toda aquela gritaria, bagunça e um segurança levando sua amiga aos gritos para fora. A solução foi pega-la pela mão e arrasta-la para fora assim como se arrastaria uma estátua de gesso. Antes de saírem, o segurança não se esqueceu de distribuir alguns trocados para os poucos meninos que estavam ali jogando qualquer coisa – e que acharam muito bem-feito ver Letícia levada daquele jeito, afinal todos eles já tinham tomado ao mínimo umas cinco surras homéricas em qualquer jogo do estabelecimento, além dos que tomaram algumas pancadas fora do jogo também – e uma quantia um pouco maior para os funcionários do fliperama – que acharam um verdadeiro alívio todo o fim daquela gritaria e barulheira.

Logo, as duas estavam dentro de uma BMW preta, cercadas de seguranças, que seguia rapidamente pelas ruas da cidade na direção da fábrica de cosméticos, visão onipresente para todos, afinal ficava em um ponto alto da cidade e a construção de tijolinhos cor-de-rosa e alguns pontos de néon da mesma cor não passaria despercebida a ninguém, isso com toda a certeza. Neste caso específico não houve muito barulho ou resistência, afinal Renata ainda estava em estado de choque e tinham tomado a decisão de imobilizar Letícia, amarrando-a e amordaçando-a para que ficasse quieta.

As duas jovens foram carregadas pelos corredores da fábrica até chegarem a um elevador, que desceu até alguns andares e chegou em uma base secreta cheia de computadores e cientistas que não tinham mais nada interessante para fazer e ficavam o dia inteiro andando de um lado para o outro com pranchetas na mão. Foram recepcionadas por um sujeito bonitão vestindo um jaleco branco impecável e roupas totalmente informais por baixo dele.

- Sejam bem-vindas, caras convidadas.

Letícia mal acabara de ser desamordaçada e já gritava:

- ISSO É UM VERDADEIRO ABSURDO! Onde estão os meus direitos nisso tudo? Cadê minha liberdade de ir e vir, vocês estão me seqüestrando, entenderam bem, seqüestrando! Quando minha família souber o que está acontecendo aqui vai pôr todos vocês na cadeia, entenderam? CADEIA!

O cientista suspirou profundamente antes de prosseguir:

- Senhorita, sou apenas um empregado aqui, sabe? Eles pagam meu salário em dia e cumprem todas as suas obrigações, além de sobrar dinheiro para comprar roupas bonitas e gel para o cabelo! Eu apenas obedeço ordens, deu pra entender?

- Vocês não estão entendendo, vão me desamarrar AGORA! Como vocês se atrevem a me amarrar, hein? ME SOLTEM IMEDIATAMENTE!

- É melhor para nossa segurança e para a sua que permaneça amarrada, pelo menos enquanto escuta as regras. Depois tudo estará melhor, entendeu?

Por sua vez, Renata ainda estava estática, era como tudo o que acontecia ao seu redor parecesse um sonho muito distante... Era como se tudo estivesse enevoado pela mesma fumaça cor-de-rosa liberada todos os dias pela fábrica às cinco da tarde, era como se tudo estivesse entre a neblina e fosse real. O que estava acontecendo mesmo? Lembrava-se vagamente do fliperama, de uma gritaria, de querer ir embora por ser quase a hora da novela, dos seguranças colocando a amiga para fora... Depois disso tudo ficava enevoado, mas parecia que sua visão voltava... E logo à sua frente...

- BRAD PITT! – Gritou ela, antes de pular em cima do cientista, que começava a se perguntar se apesar de pagarem seu salário em dia tinha feito uma boa escolha ao aceitar aquele emprego.

Os seguranças conseguiram impedir que a menina derrubasse o cientista no chão, o amassasse e mordesse como todas as garotas fanáticas pelo Brad Pitt têm vontade de fazer com o mesmo, fazendo com que o cientista se recomposse e voltasse a falar:

- Não, eu não sou o Brad Pitt, apenas muito parecido com ele. – Ele se controlava para não encher de bolachas a menina que tinha desfeito seu penteado e sujado seu jaleco, além de se perguntar se não deveria manter as duas amarradas. – Vocês estão aqui porque foram convidadas para um projeto muito importante e especial. Nós somos do Conglomerado Reverie e estamos criando um novo sistema que revolucionará o mercado dos MMORPG, o que nos colocará décadas adiante da concorrência. Vocês foram convidadas para testarem o sistema e garantir que tudo estará bem para o lançamento comercial, em breve.

- EU RECUSO. – Gritou Letícia. – Vocês foram me tirar do MEU fliperama pra jogar um desses jogos retardados de matar bichinho e jogar magiquinha? Ah, tenha santa paciência!

- Mas eu não quero perder a novela! – Choramingou Renata.

- Vocês não podem recusar. Estão aqui porque foram selecionadas a dedo para esse projeto e só sairão daqui caso sobrevivam, quando acharmos que deverão sair. Não tem escolha, entenderam bem? Portanto acho melhor as mocinhas se comportarem.

- Ah, sobreviver? ISSO É SEQUESTRO! Assim que meus pais souberem vão processar todos vocês e colocar todos vocês na cadeia, entenderam? Além da indenização milionária que vamos pedir!

- Sabe por que resolvemos fazer nossos experimentos com pessoas deste país, minha cara? Aqui é tudo tão ineficiente que não nos processarão... Além do que, são cinco moscas perto de uma organização de proporções mundiais, acha mesmo que ganhariam algum processo?

- NÃO INTERESSA! A polícia antes do fim do dia estará atrás de vocês!

- Seus pais neste mesmo momento estão sendo avisados e assinando um contrato muito explicativo e exemplificativo sobre tudo o que está acontecendo aqui. E você está cansando a minha beleza, mocinha. – O cientista estalou os dedos e um de seus assistentes apareceu trazendo uma seringa com um estranho conteúdo verde em seu interior. – Vai ficar calminha agora, entendeu?

- QUE PIADA É ESSA? Estão tentando inocular alguma coisa em mim, é? E quem são vocês para acharem que podem fazer isso? – Letícia se debatia entre as cordas, mas o assistente não teve problemas em aplicar-lhe a injeção. – Você vai PAGAR CARO por isso, entendeu? Vai pagar...

Letícia não concluiu a frase por estar levemente adormecida. Renata, ao observar a cena, ainda contida pelos seguranças, perguntou:

- Vai ficar tudo bem com ela, certo? Ela pode parecer nervosa assim mas não é uma má pessoa, só um pouco agitada demais...

- Não haverá problema algum. Logo ela acordará e estará um pouco mais calma. Enquanto ela não acorda, deixarei as duas aqui vigiadas pelos seguranças enquanto os outros não chegam. Não quero que faça nenhuma outra gracinha do tipo, entendeu?

- Tudo bem e... me desculpe por aquela hora, já percebi que o senhor ficou ofendido. Não farei de novo, está bom?

- Affe, que seja. Apenas fique quieta e tudo estará bem, entendeu?

O cientista deixou rapidamente as duas garotas com os seguranças, enquanto suspirava de raiva por ter de pentear novamente os cabelos e haver uma manchinha em seu jaleco impecável, o que o obrigaria a trocá-lo. Criaturinhas irritantes, por ele ainda continuariam os testes com ratinhos por um bom tempo...


***

Algum tempo depois, Letícia ainda estava zonza, mas acompanhada de perto por sua amiga Renata, andava pelos corredores. Tinha uma ligeira vontade de quebrar tudo aquilo, mas tal vontade lhe parecia tãããããão distante naquele momento... Preferia mesmo era sentir o ar-condicionado na pele, respirar fundo aquela atmosfera tão artificial e sentir que a vida fluía por todo o seu ser. Os passos eram vagarosos, sentia seus pés no chão de concreto, era tudo tão belo que dava vontade de declamar poesias.

Renata, por sua vez, estava assustada com o fato da amiga cantarolar Bob Marley e começou a se perguntar o que diabos tinha na injeção que ela tomara...

Tinham sido guiadas para uma sala de reuniões e, no corredor, podiam ver um garoto magrelo cheio de espinhas e boné na cabeça, um outro menino cuja única marca característica eram os cabelos cacheados de cor louro-cinzenta, olhando assustado para todas as lâmpadas e ar-condicionados e um terceiro, cabelos negros muito curtos, um pouco acima do peso e com óculos de fundo de garrafa no rosto. Os cinco se entreolhavam e, ao entrarem na sala designada, conduzidos pelos seguranças, a curiosidade de um em relação ao outro só fazia aumentar. Na sala, um grupo de cientistas, além daqueles responsáveis por recepcioná-los algum tempo antes, os esperavam:

- Amanhã vocês serão levados para a ilha e daremos início ao nosso jogo, ao Projeto Terras Secretas. Nesta noite, serão sedados e receberão os implantes dos chips necessários para a decodificação do software e interpretação dos sinais dos programas pelo cérebro de vocês.

- Por obséquio, desejo inquirir acerca de um ponto. – O garoto de cabelos negros e curtos levantava a mão em seu lugar. – Qual o modo de funcionamento do mecanismo responsável pela transmissão das informações para o tecido nervoso e posterior interpretação?

Marcelo, o garoto de boné, olhando aquela cena, cutucou Igor, a seu lado, e perguntou:

- Cara, que que esse cara ta querendo dizer com isso?

- Sei não... – Foi a resposta.

- Vocês receberão dois implantes de microchips: um deles será implantado na região do pulso e receberá os protocolos WAP responsáveis pelos dados implantados em uma realidade criada por computação. O outro chip, instalado na nuca, transmitirá a informação decodificada para o cérebro, gerando os estímulos visuais e sensoriais responsáveis pelos eventos aos quais serão expostos. Em suma, nossa tecnologia permitirá a junção entre uma realidade virtual e o mundo real, a tal “matrix” idealizada por escritores, pesquisadores e teóricos aplicada à realidade.

- Cê tá entendendo alguma coisa? – Foi a vez de Igor perguntar para Marcelo.

- Tou não, cara. Acho que eles estão falando de filme...

- Testaremos o balanceamento de nossa inteligência artificial responsável pela programação. – Uma das cientistas tomou a palavra. – As reações sensoriais serão reais, independente do dano ter partido de um ambiente virtual. A princípio, pelos testes preliminares, apesar das dores e da sensação de dilaceramento dos membros ser real, não são suficientes para matar uma pessoa devido o choque, apenas paralisá-la. Mas não sabemos se o choque pode ser incontrolável ao ponto de ser fatal a alguém. - Ao ouvirem falar em morte, os quatro adolescentes estremeceram. Letícia, por sua vez, pensava que tudo era yin, yang e zen ao mesmo tempo. A cientista continuou. – Há uma equipe médica de prontidão para eventualidades e serão monitorados 24 horas por dia. Assim que concluirmos que todos os testes estejam acabados, serão trazidos de volta e recompensados pelo auxílio e disposição.

- Mas e meus pais? Eles devem estar preocupados! – Renata perguntou timidamente.

- Eles receberam um contrato e assinaram prontamente, vocês são nossa responsabilidade a partir de agora. Espero que ajam muito bem dentro do jogo e que tudo ocorra de acordo com o planejado. Logo vocês serão enviados para descansar em seus dormitórios e nos encarregaremos de todas as providências necessárias para a partida, que ocorrerá amanhã.

Os cinco adolescentes se entreolharam rapidamente. Era melhor que toda aquela esquisitice acabasse logo antes que algo ainda pior acontecesse com todos eles.

***

Nomes aleatórios.

E até terça que vem. ;-)