quinta-feira, dezembro 25, 2008

Lágrimas de Fada

- Não quero mais uma fada!

Foi tudo o que ele disse para mim, enquanto aqueles olhos verdes chispavam. Nenhuma outra palavra, nenhuma outra expressão. Apenas a decisão de um garoto de dez anos, com aquele olhar sério que nunca tinha visto antes.

Os meus olhos azul-dentro-de-azul se arregalaram e minhas mãos pousaram-se sobre meus lábios. A maioria das crianças, assim que dá seus primeiros passos e diz suas primeiras palavras, é presenteada com uma fada-companheira, para que possa ser protegida e ter uma companheira para seus primeiros anos. Eu, Carys, fui a fada designada para acompanhar o pequeno Harald., logo que ele completou três anos de idade.

Cheguei, como todas as fadas chegam, dentro de uma estrela-cadente, e não foi difícil apegar-me ao meu protegido. Eu contava para ele histórias durante a noite, acariciava seus cabelos quando se machucava, para que a dor pudesse passar. Encorajava a cordialidade, os estudos, o companheirismo, todas essas coisas que as crianças precisam para crescer. Brincávamos juntos, ríamos juntos, ele me dava lições com aquela sabedoria pura das crianças, mesmo que não soubesse disso.

Acompanhava-o junto de seus amigos, onde ficava sobrevoando e observando o transcorrer das brincadeiras. A alegria das brincadeiras infantis me deixava feliz também, mas às vezes eu me sentia posta de lado. Uma fada ciumenta, ora vejam!

Entretanto, há um detalhe cruel no contrato entre fadas e crianças: a fada pode acompanhá-la durante toda a sua vida mas, se a criança não desejar mais uma fada, esta poderá ser mandada embora e a criança se esquecerá de tudo aquilo que viveram juntos. Uma fada deve estar pronta para isso – o contrato não será necessariamente eterno, mas poderá ser rompido a qualquer momento.

Só que eu... me esqueci disso. Aqueles olhos gentis, aquele cuidado e aquela educação... Como eu não poderia ter certeza de que o contrato não seria eterno?

Mas não era e o pequeno Harald, ali em minha frente, repetia o que eu não queria ouvir.

- Desejo não ter mais uma fada!

Lágrimas cristalinas teimaram em cair dos meus olhos. Como um humano ousa tirar lágrimas de uma fada?, alguém poderia perguntar, mas para mim aquela violação não importava. Meu coração se partira em mil pedaços, meu mundo desaparecera na escuridão. Na verdade... eu fora mandada embora de meu próprio mundo, que se convertia naquele quarto, naqueles brinquedos... e naquela criança.

Por quê? Era tudo o que eu perguntava, enquanto voava em disparada para longe dali, daquele mundo que já não pertencia a mim. Seria a escola nova, ingressada naquele ano? Os amigos novos? De repente ter uma fada companheira tornou-se um fardo, uma coisa ruim, e minha presença tornou-se insuportável. Então o que eu tinha feito de errado para isso acontecer?

Era tudo o que eu pensava enquanto, sentada no miolo de um girassol, derramava mais lágrimas cristalinas. Importava? Abracei meus joelhos, aninhada entre as pétalas. Foram anos tão especiais para mim, por que acabaram assim tão de repente, como o bater das asas de um beija-flor? Era meu lindo castelo que desabava e me feria com seus escombros.

Tantos humanos, monstros e deuses desejavam ter uma fada e, de repente, alguém que a tinha simplesmente a dispensou! E, o que é pior, nunca mais poder ver aqueles olhos, aquele sorriso, ouvir aquela risada, fazer-lhe cócegas! Mas se ele desejava percorrer seu caminho sem mim, o que eu poderia fazer? Se queria sentir as dores do mundo sem uma fada a seu lado, quem era eu para crer no contrário?

Continuei voando rumo ao horizonte distante, as lágrimas cobrindo meus olhos. Não percebi quando cheguei à terra das fadas e fui abraçada por alguma companheira.

- Carys, como é bom vê-la depois de tanto tempo!

Não é preciso dizer que eu não gostaria de voltar. Simplesmente sorri educadamente de volta.

- Mas o que houve com você?

Contei toda a minha história de meu coração partido para ela, que me olhou com ternura e disse, enquanto acariciava meus cabelos azuis:

- A natureza das fadas é tão diferente da natureza dos humanos, minha querida... Mas vai passar, fique aqui em nossos campos o tempo que você precisar. Logo, você vai atender ao chamado de outro alguém e, quem sabe, poderá ser bem melhor do que foi.

Assenti, enquanto rapidamente me sentei em uma mesinha de cogumelos em um jardim, onde logo alguma outra fada apareceria para contar as últimas novidades. Sim, algum dia haveria outro contrato, mas, por enquanto, apenas aqueles olhos e aquele sorriso estavam na minha mente. E mais e mais lágrimas de fada insistiam em cair de meus olhos.

terça-feira, julho 08, 2008

O Jovem Aprendiz

O Jovem Aprendiz estava eufórico naquele Dia Tão Especial! Tinha conseguido pegar ligeiramente emprestado o Grande Livro de Feitiços de seu Poderoso Mestre! Claro, ele estaria com um Problema Muito Grande caso o Poderoso Mestre percebesse o que estava fazendo, mas não se importava com tal possibilidade naquele momento. Seu Caráter Ambicioso fazia com que ele relevasse os riscos, afinal havia um Objetivo Nobre por trás de tal atrevimento!


Percorreu rapidamente as prateleiras com os olhos para verificar que tudo estava ali: a escama de uma sereia, um fio da juba de uma quimera, uma unha encravada de um dragão verde dos pântanos... Tivera inclusive de negociar com Mercadores Obscuros para conseguir algum daqueles Ingredientes Especiais, mas não era algo que realmente tivesse importância, exceto, é claro, pelo Considerável Prejuízo em suas finanças.


Mas tal sacrifício valeria a pena! Não aguentava mais ter de decorar nomes de Magos Ilustres, ter de elaborar listas de ingredientes e fazer feitiços simplórios como poções do amor! Mas com aquela poção, mostraria ao Poderoso Mestre que já podia lhe ensinar a Feitiçaria Avançada!


O caldeirão borbulhava enquanto o Jovem Aprendiz despejava, devagar, trevos-de-quatro-folhas picadinhos. E o que poderia vir depois? Talvez o Poderoso Mestre se assombrasse imensamente com Tamanha Habilidade, talvez dentro de algum tempo poderia montar sua própria loja de poções, talvez o rei o chamasse para fornecer Feitiços Exclusivos, quem sabe logo não teria Jovens Aprendizes, ou até mesmo fosse o Maior Feiticeiro do Mundo?


Tais sonhos foram interrompidos por um Barulho Repentino, meio parecido com uma bolha explodindo, bem como por uma Meleca Esverdeada Malcheirosa que se espalhou por toda a sala. Que Amarga Decepção para o Jovem Aprendiz! Não sabia o que era pior: a Vergonha Previsível diante do Poderoso Mestre, o Problema Muito Grande advindo do fato de ter pego o Grande Livro de Magias sem autorização, o Considerável Prejuízo...


Nada disso, pensou ele rapidamente. Havia uma Consequência Bem Pior. Será que havia algum Feitiço Fácil de Fazer que Desaparecesse para Sempre com aquela Meleca Fedorenta?

domingo, julho 06, 2008

Programação de julho da Prisão de Vidro!

A Prisão de Vidro vem convidar seus ilustres leitores para a programação de julho do blog!

No dia 08/07, mais um conto da série "Personalidades Fantásticas"! Grandes Buscas, Principes Heróicos, Princesas Encantadas, Grandes Magos, Monstros Horrendos e O Que Mais Houver!

No dia 15/07, um conto com uma temática muito sutil de FC, mas que tem como linha condutora as mudanças que uma situação-limite exerce nas pessoas em geral!

No dia 22/07, teremos a estréia de uma nova série de contos, chamada "Rock 'N Roll"! Por que não associar duas paixões, a escrita e a música? Por que não sintetizar em um texto as sensações trazidas pelo som muito especial de uma banda? É esta a proposta dessa nova série!

No dia 29/07, um conto sobre um tema abstrato! O escolhido do mês foi o tema "Liberdade" - que, como o próprio nome do blog indica, é uma questão presente em todos os momentos, para cada um de nós!

Aguardem também as novidades do blog!

domingo, janeiro 13, 2008

Happy New Life

E 2008 chegou.

Promessa de ano-novo? Várias, mas que podem ser condensadas em uma só: olhar com carinho tudo aquilo que andei negligenciando nos últimos tempos. E foram várias coisas, algumas essenciais o suficiente para que eu não possa ser uma pessoa completa sem elas.

Hora de olhar pra trás, tirar a poeira e tratar de organizar o que precisa ser organizar, limpar o que precisa ser limpo e fazer o que precisa ser feito.

Pois o tempo é este.