terça-feira, setembro 04, 2007

Terça-feira

Energia criativa esgotada depois de uma brainstorm-monstro.

Tudo bem, não está esgotada.

E foi uma sensação MUITO prazerosa.

quarta-feira, agosto 22, 2007

A Gênese de um Novo Mundo

Estava diante do Conselho e, podia ter certeza disso, não havia uma única sombra de dúvida transpassando sua alma sobre qual seria a atitude a ser tomada. Não temia a reação dos Conselheiros – e nem teria o que temer, afinal, o máximo que poderiam fazer seria rir das requisições de uma “criança insolente”.

O Conselho era a autoridade máxima da Colônia – e não era difícil administrar pouco mais do que as duzentas e cinquenta pessoas que ali viviam naquele momento. Provavelmente, no futuro, findos os testes, enviariam mais duzentos indivíduos para compor a população local e talvez, caso aquele fosse um local viável, mais algumas centenas de pessoas para ali recomeçarem a vida.

Sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao pensar em tal fato. Tinha plena consciência, desde que estudava na nave colonizadora, que o pedido a ser feito dificilmente seria aceito, mas arriscava apelar aos Conselheiros por um pouco de humanidade. E, talvez mais do que isso, lutar pelo que realmente fazia diferença a ele?

Sempre soube estar do lado de uma das pessoas mais especiais que jamais haviam existido no universo inteiro. Não por ser descendente dos genomas mais nobres já passados pelo planeta Terra, por ter sido criada como uma grande esperança e um grande passo para um avanço científico. Como clamar por humanidade de pessoas que nunca perceberam o quão frágil ela era? Que nunca a ouviram chorar após acordar de um pesadelo ou mesmo tomá-la braços quando se sentia sozinha.

Não saberia dizer quando começara a amá-la, talvez ao ver os olhos negros fitarem com curiosidade as paredes metálicas da entrada da nave e assustarem-se ao perceber que o interior da sala onde passaria a maior parte das horas dos próximos anos se parecia com a idéia de uma biblioteca européia de muitos séculos anteriores. Ali teria sua educação formal e seria preparada para o dever já determinado para ela e sobre o qual nunca teve escolha.

Talvez fosse uma coincidência adorável para as pessoas acima deles que ela houvesse ficado órfã ainda tão cedo e não tivesse pessoas a quem preocupar quando estivesse de partida para Alfa-Neo-Gaia. Provavelmente, o único adulto que a vira como uma menina que precisava de educação e afeto tinha sido o tutor para ela designado – seu padrinho, era um favor político a permissão para levar consigo o afilhado igualmente órfão e sem muitas perspectivas na Terra, apenas mais um na multidão.

Agora, ousava postar-se diante dos mesmos adultos e clamar por sua piedade...

- Qual é o pedido que justifica a audiência perante este Conselho, meu jovem?

- Por que, pelo menos por uma única vez, não vêem Alissa mais como uma garota e menos como um experimento em suas mãos? Vim aqui para expor minha disposição em desposá-la.

Os cinco Conselheiros riram-se como se o maior absurdo já dito naquele quadrante galáctico tivesse sido proferido.

- Acha que as decisões já planejadas e delineadas por anos seriam impedidas pelo simples capricho de um adolescente? O Dr. Hershells não conseguiu demonstrar a importância que Alissa tem para nós?

O jovem, porém, estava firme em sua convicção. A felicidade de Alissa estava em suas mãos, não havia ninguém que a pudesse fazer mais feliz. Como podia se esquecer, nos anos passados no interior na nave colonizadores, das vezes que, em contato com outras crianças e adolescentes ali presentes, não olhavam e tratavam sua amada como uma figura mítica, como a protagonista de algum conto infantil ou uma pessoa que não compartilhava a mesma realidade deles? Ou mesmo os olhares de desdém, como poderia não repará-los? Mesmo os adultos a apontavam quando se encontravam pelos corredores: era aquela a Herdeira, a garota que, ao chegarem a Alfa-Neo-Gaia, seria uma das principais responsáveis pelos testes de viabilidade da colônia.

Devia ser porque não eram eles que enxugavam as lágrimas de Alissa quando ela desejava ser tratada como uma igual e não como uma deusa-viva, ou mesmo quando os comentários mordazes eram inevitáveis, quem a consolava. Porém, sempre havia alguém para lembrar que ela era descendente de uma “linhagem nobre” da Terra – como se aquilo, naquela época, fizesse realmente alguma diferença – e caberia a ela o teste máximo da viabilidade da Colônia se auto-sustentar: os efeitos de uma gravidade e atmosfera diferentes do planeta-natal na concepção e desenvolvimento de um embrião. Seria um procedimento relativamente simples, caso fosse usada a inseminação artificial tão comum na Terra em qualquer uma das tripulantes a bordo, mesmo que os genes utilizados fossem os da “linhagem nobre” a qual Alissa pertencia,. Entretanto, não era possível, dadas as condições de Alfa-Neo-Gaia, a utilização em larga escala da inseminação artificial assim como ocorria na Terra. Havia os equipamentos básicos para o cuidado com a saúde dos colonos, mas o novo mundo seria povoado da mesma forma que o antigo havia sido - seria mais adequado, inclusive por todo o significado cultural e até mesmo ritualístico que representava.

- Foi uma enorme audácia do Dr. Hershells deixar que um pivete como você convivesse com Alissa por tanto tempo, pensamos nas mais diversas formas de puni-lo por isso! Mas, no fim, sua existência é até bem útil, meu jovem, não pensamos no psicológico de Alissa e é conveniente para nossos fins que ela esteja tão apaixonada por alguém.

Ao ouvir tal voz, o jovem sentiu um nojo tremendo e não pôde evitar lançar um olhar do mais puro ódio à direção de onde ela tinha vindo: Magnus Godchild. Desde a primeira vez que o viu, ainda nos primeiros dias na nave colonizadora, ainda quando era uma criança, o odiou instantaneamente. Os olhos de quem se considerava superior a toda a realidade que o rodeava, o sorriso de quem via não mais do que um inseto em sua frente, como se sua superioridade fosse tão óbvia que todos deveriam ajoelhar-se aos seus pés e desejar longa vida. Inclusive, não era surpresa alguma ver o recém-chegado como Conselheiro – afinal, não era ele um dos homens mais inteligentes da Terra, um dos responsáveis por toda a articulação que levara a nave-colônia para Alfa-Neo-Gaia – e certamente uma das pessoas que traçara o destino de Alissa?

Afinal, a tarefa de dar a luz ao primeiro filho de Alfa-Neo-Gaia era bem simples, não fosse pelo fato de que misturar o sangue nobre de Alissa com algum mero colono seria um enorme desperdício. O primeiro filho, o Descendente da Herdeira, deveria ser fruto da mais nobre das linhagens humanas restantes naquele tempo. A pessoa mais indicada, no caso, seria Magnus Godchild, descendente de uma das famílias mais ricas da antiga Terra, responsável atualmente por parte do financiamento do projeto de expansão espacial, mas que construíra a maior parte de fortuna pisando nos cadáveres gerados pela indústria armamentista. Não foi muito difícil para o cientista, já conhecido nos meios acadêmicos desde a adolescência – ouvira seu padrinho comentar certa vez que talvez pelas enormes injeções de recursos de sua família - , carismático natural e um político dentro das ciências, ser o nome mais cotado para tão honrosa tarefa.

O jovem não podia deixar de pensar que o projeto que envolvia Alissa parecia apenas um disfarce para a ambição de um velho pervertido, possuir um dos maiores legados genéticos da história da humanidade. Para que o Descendente da Herdeira também fosse seu próprio descendente, o herdeiro dos Godchild. Muito conveniente para aqueles que se propunham ser a gênese de um novo mundo! Desde criança, desde quando ainda era inocente o bastante para não perceber os olhos carregados de luxúria, odiava as poucas vezes em que se esbarravam pelos corredores, em que ele fazia questão de frisar o quanto Alissa crescia para se tornar uma garota mais bonita a cada dia. Podia também ver a expressão no olhar da amada, de nojo profundo. Poucas semanas antes, ao chegarem a Alfa-Neo-Gaia, Alissa não pôde acreditar que seria ele seu futuro consorte.

Desde que soube da natureza do destino de Alissa, apesar dos ciúmes e da vontade de tê-la para si, além da revolta por não terem dado a ela nenhuma escolha, compreendeu que não sairia jamais de seu lado, mesmo sabendo que ela invariavelmente seria tocada por algum outro homem. Mas, ao conhecerem identidade desse outro homem, não puderam evitar que a indignação profunda os tomasse. Por que justo Magnus Godchild? Por que justo aquele por quem ambos nutriam um nojo profundo?

Alissa tentou se manter forte, inclusive contemporizando, ao dizer que, afinal, tinha sido criada para tal tarefa. Entretanto, não foi difícil encontrá-la chorando em seu quarto durante as primeiras noites na Colônia, a forma como ela segurava sua mão para que não a deixasse sozinha. Ainda mais quando o casamento fora anunciado para dali alguns dias, não podia suportar sua amada não conseguir fazer as refeições ou não dormir durante a noite. Sua revolta era indisfarçável, assim como a impotência diante das circunstâncias. Fora criada para cumprir seu destino e sabia que não restava alguma escolha a ela, a não ser obedecer. Sempre fizeram questão de deixar bem claro que não cabia questionar, apenas aceitar. Tinha tido a chance de uma vida melhor, criada de uma forma mais atenciosa do que a maioria das crianças em sua situação e tinha uma missão que ninguém além dela seria capaz de cumprir.

Porém, ele tinha a coragem de tentar alguma mudança, por mais que alimentado apenas por uma esperança que saiba ser vã. Ao contrário da Herdeira, entretanto, fora criado para não ter nada a perder – então, o que lhe custava tentar clamar pela humanidade daqueles homens? Ou ela teria ficado na antiga Terra, ao se instalarem na Colônia?

- Jean... Você é apenas uma criança estúpida que não entende a profundidade dos assuntos onde está tentando se meter. E lembre-se: o simples fato de poder colocar os olhos em Alissa deve-se apenas, e pura e simplesmente, à nossa boa-vontade. E tente não perdê-la, pode ser muito pior para você. – Magnus se limitou a dizer.

- Está encerrada a audiência, meu rapaz. Faça a gentileza de se retirar da sala – disse apressadamente um dos outros Conselheiros.

Jean riu com um certo sarcasmo, enquanto saía da sala. Como se pudessem fazer alguma coisa a ele naquelas circunstâncias! Era apenas uma criança estúpida? Em sua cabeça, estava muito clara a real natureza do destino dado a Alissa e faria tudo o que estivesse em seu alcance para modificá-lo. Os Conselheiros ainda o respeitariam, veriam que havia nele muito mais do que um órfão levado à Alfa-Neo-Gaia pela caridade de um cientista!

Tinha certeza de apenas uma coisa: faria mais a diferença para a Colônia do que qualquer um deles!


***

Um clichê velho de roupa nova.

Mas gostariam de ouvir mais histórias de Alissa e Jean? Pois eu gostaria de contá-las...

quarta-feira, agosto 01, 2007

E vejo mil anos passarem pelos meus olhos...

Idéias para algumas centenas de crônicas, mas todas elas muito mais pessoais do que aquilo que estou disposta a registrar aqui.

Mais tarde volto com alguma que não seja tão íntima.

quinta-feira, junho 28, 2007

Epidemia

- Aperte... logo... o gatilho!

Eu, apavorado, apenas ouvia essas palavras de meu chefe, poucos metros em minha frente. Minhas mãos tremiam enquanto apontavam uma arma em sua direção, certamente não conseguiria atirar sem acertar alguma das mesas ou equipamentos ao invés de extermina-lo! Mas eu não conseguiria, era meu mestre ali!

Seu rosto se contorcia e eu podia ver as veias de seu pescoço saltarem, enquanto um grito de dor ecoava pela sala. Seguimos todos os procedimentos de segurança, por que aquilo tinha de ter acontecido?

Somos pesquisadores do Governo, aquele era o projeto de uma arma biológica capaz de exterminar todo um exército em poucas horas! Era simples: o agente atingiria a corrente sanguínea do indivíduo, paralisando todos os seus nervos e matando-o em alguns poucos segundos. Espalhado por avião, contagiaria os soldados inimigos e os aniquilaria rapidamente. Uma guerra poderia terminar em menos de uma semana, com o máximo de aproveitamento!

Estávamos já nas fase dos últimos testes quando percebemos que algo tinha dado errado. Ao injetarmos o agente em uma cobaia, primeiramente podemos observar seus músculos contraírem e seus olhos injetarem, para em seguida ser possuída por uma sede irracional e incontrolável de sangue. E, o que parecia pior: os animais que não tinham seu sangue drenado desenvolviam os mesmos sintomas e comportamento. Foi preciso atirar neles, com uma arma que havia no laboratório para alguma emergência, para que pudessem parar. Em pouco menos de uma hora, toda uma população de cem ratos havia se tornado um exército de bestas sedentas por sangue.

O Professor tomou uma delas, a única que poupamos para que pudéssemos analisar o que ocorrera de errado, porém, na tentativa de extrair seu sangue, acabou sendo mordido. Passamos por momentos de profunda agonia e nos iludimos com a sensação de que o contágio não passaria para os humanos, mas não foi necessária mais de meia hora para ele apresentar os primeiros sintomas – e o quadro não parava de evoluir, por mais que tentássemos revertê-lo.

Mas não poderia matá-lo, não o homem que tinha me dado uma chance para iniciar minhas pesquisas!

- ATIRE AGORA!!!!!!

Fechei os olhos com todas as forças, como para acordar de um pesadelo. Silêncio. Talvez fosse melhor que o Professor sucumbisse, poderia continuar as pesquisas do ponto onde pararam e corrigi-las.

Ao abri-los, porém, não tive tempo nem para ficar surpreso. Os olhos maníacos olhavam diretamente para os meus, enquanto uma das mãos imobilizava aquela que segurava a arma e nós dois caíamos sobre uma das escrivaninhas.

- Professor!

Nenhuma resposta, apenas a respiração afetada de uma besta pronta para devorar sua presa. A força já não parecia humana, era como se estivesse preso por chumbo ao piso do laboratório, meu corpo estava imobilizado e eu sabia intimamente que já não tinha salvação.

Antes de sentir seus dentes em meu pescoço, podia pensar apenas em dias negros que espreitavam a humanidade...


***

Resident Evil e survial games congêneres? Não, neeeeeem um pouquinho inspirado nisso, imagina...
E isso porque disse que voltaria a atualizar o blog. Mas que blogueira vergonhosa eu sou!

segunda-feira, abril 23, 2007

Anjo da Tempestade

Desde os primeiros dias de sua infância, Lilly fora ensinada a crer no Anjo. Eram lendas antigas, contadas aos pés das fogueiras, diziam que o Anjo viria e os redimiria de todos os erros e pecados. Que, para que ele agisse na vida de alguém, bastava acreditar que ele pudesse surgir e um milagre poderia acontecer.

Desde que aprendera a fazer preces, todas as noites ajoelhava-se aos pés de sua cama, desejando a visão do ser que a redimiria de toda a escuridão. Dirigia-lhe palavras doces, desejava encontrá-lo, desejava conhecer o paraíso que ele proporcionaria àqueles que tivessem fé.

Todas as noites, obedecia ao mesmo ritual. Dirigia palavras ao Anjo para que a abençoasse, assim como a todo o seu povo. Enquanto criança, tais preces eram até mesmo esperadas mas, com o passar dos anos, era com olhares de recriminação e mesmo com risos de escárnio que era recebida ao contar sobre sua fé. Aquela era apenas uma lenda, deveria crescer e deixar de acreditar em tais histórias infantis. Não deveria orar por um anjo redentor, afinal quem viria a seu socorro?

Não que esperasse que o Anjo solucionaria todos os seus problemas, mas sabia que ele lhe daria forças para lutar. E, mesmo durante a adolescência, ouvindo protestos de pais e conhecidos, continuava a ajoelhar-se por todas as noites, aos pés de sua cama, repetindo a mesma doce oração.

Continuava a crescer. Ao olhar uma rosa amarela, imaginou que seu Anjo estivesse nela, mas tropeçou e acabou por se ferir nos espinheiros. As lágrimas de dor não foram contidas e um pensamento era inevitável: “por que ele não pôde me proteger?”.

Ainda assim continuou com suas orações diárias, as palavras doces maculadas por um certo amargor. Ouvia risadas, afinal, anjos não pertenciam ao mundo material, por que perder seu tempo com divagações?

Imaginou tê-lo visto no meio de um lago. Ao tentar alcançá-lo, a força da correnteza a afastou e, se não fosse por alguns passantes muito solícitos, teria sucumbido. Então ele não viria por ela quando precisasse?

Continuou as orações, as palavras tornaram-se ásperas. Não tinha a intenção de desistir, mas seu Anjo não seria apenas uma história infantil, como sempre lhe disseram? Começava a acreditar em tal hipótese. Sua fé começava a se abalar.

E quantas pessoas não viam que menosprezavam a figura do Anjo? Usavam-no para justificar seu próprio egoísmo, sua própria inépcia. As pessoas o invocavam sem nem se importar com o que representava, apenas para procurar uma figura para usar de justificativa para sua futilidade. Enojava-se por essas pessoas. Como podiam menosprezar sua fé, o que o Anjo para ela representava?

Encontrou-se também com pessoas que o menosprezavam, quase blasfemavam. Essa é apenas uma idiotice para crédulos, era o que diziam. Não conseguia conviver com essas pessoas, discordava veementemente delas! Horrorizava-se com suas palavras, com seu descaso!

Em uma noite tempestuosa, Lilly ajoelhou-se para seu ritual diário. O coração tremia assustado pelos fortes trovões e relâmpagos da tempestade, mas não deixou de pronunciar nenhuma de suas palavras habituais. Deitou-se um tanto quanto assustada, mas acabou por adormecer.

Foi o mais real de seus sonhos. Estava em um campo florido e uma figura a observada, sorrindo o sorriso mais encantador que jamais vira. Ele sussurrou seu nome, enquanto aproximava-se com um buquê de rosas apanhado na hora:

- Lilly, Lilly, minha pequena Lilly...

- Quem é você? – Tinha uma imensa certeza de quem era, mas a pergunta foi inevitável.

- Aquele para quem fez suas preces por todos esses anos. Estarei sempre aqui com você, Lilly, a protegê-la de todo o mal, para redimi-la de seus erros quando for a hora certa.

A garota não resistiu ao impulso de abraça-lo – e como eram confortáveis seus braços! Como sentia-se reconfortada, como era aquele o lugar onde sempre desejou estar! Por toda a noite, ele a tomou pela mão e passearam juntos pelos campos floridos sem fim, entre sorrisos e risadas.

Foi com uma expressão desapontada que acordou, que percebeu estar na sua cama, em seu quarto. Apenas um sonho? Apenas o sonho com o maior de seus desejos?

Ao apoiar-se para levantar de sua cama, percebeu tocar pétalas de rosas vermelhas. Na verdade, toda a sua cama e quarto estavam repletos de pétalas, assim como o sol brilhava do lado de fora.

Não pôde deixar de rir. Então, não precisava ter medo, sua fé era real! Seria redimida de seus erros e levada ao paraíso pelo Anjo – mas aquele não era seu paraíso particular, onde passara toda a noite?

Tinha um enorme sorriso nos lábios, que ali ficaria perpetuamente. E ainda sentia em seu corpo o calor do Anjo e a certeza que ele sempre a acompanharia.

***

Brega? eu sei.
Simbolismo paulocoelhiano? eu sei.
Mas quem se importa?

quarta-feira, abril 18, 2007

Prelúdio de Sombras

Era uma daquelas noites em que apenas as estrelas salpicavam o céu com seu brilho. A pequena vila acalmava-se com o fim das atividades diárias, fossem elas o trabalho de artesãos e camponeses ou mesmo as funções exercidas pelos sacerdotes no templo. Uma tênue fumaça saía de algumas das chaminés relevando que a última refeição do dia estava sendo preparada e o brilho de alguns lampiões podia ser visto através das janelas, revelando habitantes que ainda se mantinham despertos.

Apesar do momento de descanso diário se aproximar, havia uma agitação na praça central da cidade. Em torno de uma fogueira, algumas crianças olhavam para o homem de idade avançada que olhava para elas fixamente, enquanto andava com passos exagerados e ameaçadores para a direção onde estavam sentadas:

- Podem ver as luzes da fogueira? As chamas que se lançam aos céus, as sombras que dançam pelo chão... Pois é. A luz afasta as sombras, as espanta, porém se não há luz, a tendência delas é tomar tudo aquilo que tocam...

Algumas crianças olhavam assustadas para as sombras assustadoras que se formavam no chão, como se dançassem sobre elas, como se fossem engoli-las. Apenas uma delas as olhava com desdém, como se nada fosse capaz de apavorá-lo ou fazer um mínimo arranhão em sua auto-estima.

- Por que vocês têm medo delas? Elas não podem fazer nada contra nós, são apenas imagens!

O ancião riu da petulância do garoto que se levantava com um sorriso desafiador após dizer a frase.

- Mas as Trevas se aproximam, pequeno Gareth, e você precisará de toda a força que guarda dentro de si para poder sobreviver.

As crianças se entreolhavam apavoradas, enquanto Gareth sussurrava algo como “não tenho medo”, sem perder o sorriso de uma superioridade auto-imposta. O ancião também sorria, admirado por ver como aquele menino, mesmo com dez anos, já tinha uma personalidade tão desafiadora. Não podia esperar menos do Primogênito dos Olhos do Céu, muito menos por ser filho de quem era. Era certo que ele realizaria grandes feitos quando fosse mais velho.

- Mas vocês não precisam ter medo. Se a luz permanecer dentro de vocês, as sombras jamais poderão entrar. Jamais se esqueçam disso.

Os olhos curiosamente de cores diferentes de uma menina começaram a lacrimejar. Estava apavorada, como sempre se apavorava em todas aquelas conversas, tinha medo dos monstros que pudessem devorá-la na escuridão. Todas as noites tinha pesadelos sobre ser abandonada por todos, ter de fugir de monstros maiores e mais fortes do que jamais seria, de desaparecer na escuridão sem fim.

- Não precisa chorar, eu vou proteger você.

Sentiu uma mão delicadamente enxugando suas lágrimas e ao olhar para frente, viu Gareth com um sorriso gentil. Aquele menino tão destemido ousava prestar atenção nela, preocupar-se com seus medos! Podia sentir-se um pouco mais confortável.

Por sua vez, um sorriso melancólico percorria o rosto do ancião. Pobres crianças, mal podiam imaginar os tempos sombrios que estavam por vir...

***

Brincando com Gareth e Aurora.
Vocês ainda ouvirão falar deles.

terça-feira, abril 10, 2007

Sobre Árvores... Mas Principalmente Sobre Estrelas

Tá, isso não é um conto. É uma reflexão.

Por que montar um blog? Por que um dia, há dois anos, tive a vontade, impulso e desejo de montar um blog?

A primeira - e talvez mais óbvia das razões - era me forçar a escrever nem que fosse um texto por semana, com uma "deadline" de toda terça-feira. Por mais que um texto ruim fosse gerado, era um texto ruim. E, na sábia lição de uma das pessoas que mais admiro, "a chave de tudo está na regularidade. Saramago escreve duas páginas por dia. Duas páginas por dia dão mais de 700 por ano, dão dois livros". E foi pela busca dessa regularidade - pelo menos de prática, apesar da qualidade vir com a reiteração, esta não é garantida no mais das vezes - resolvi fazer um conto pequeno, que coubesse no blog, por semana.

Por um ano, funcionou. A seguir, hiatos. Criativos ou mesmo de minha própria mente. Claro, meus próprios compromissos profissionais e pessoais também contribuíram. Não mexo com palavras apenas na ficção, sou uma arquiteta delas em minha profissão também. Em cada palavra, um sentido. Em cada sentido, uma consequência. Logo, a busca do melhor dos sentidos... Mas enfim, não só de pão vive o homem. E meu prazer está longe de ser apenas aquele que me é oferecido por minha profissão.

E mais do que isso: a escrita está intimamente ligada ao espírito. Se você não está em harmonia, não adianta. A vontade de escrever se esvai, a inspiração cai por terra. Escrever é principalmente um ato de paixão. Pelas palavras, pelas histórias, pelos personagens, pelas circunstâncias.

E o que é a vida de um bardo sem a paixão? O que move um bardo sem suas histórias, sem poder transcrever seu mundo para as outras pessoas? Mesmo para um bardo oprimido por uma prisão de vidro, por que não contar as histórias que enxerga através dela?

Pois foi isso que pensei ao criar esse blog. Em contar as histórias que enxergo por minha prisão de vidro. Não é um local confortável de se estar, mas não é nenhum inferno. E só consigo suportar a vida dentro dela por saber que há um mundo lá fora. Que não posso tocar, mas posso ver, sentir... E que, mais ainda, a única forma como poderei tocar esse mundo é contando histórias sobre ele.

Mas há um outro sentido em ter um blog, um sentido extra além de poder contar histórias e não me sufocar.
Contar histórias é minha maneira de estar perto de alguém. Cada letra, cada suspiro, cada gotícula de inspiração serve para aproximar... Como se fossem pequenos pedaços de meu mundo que eu deixasse demonstrar. Cada letra, cada sílaba, cada pequena palavrinha são uma maneira de conectar mundos, aproximá-los, torná-los próximos.

Então, que voltemos a contar histórias.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Gotas Urbanas

Nem me lembro como o conheci e, naquela altura do campeonato, nem interessava. Não sei o que me atraiu nele, talvez a expressão sempre sisuda e o porte elegante de um rapaz mal-saído das fraldas que já queria enfrentar o mundo, quase um lobo querendo fundar sua alcatéia. Acho que gostava de espiar aqueles olhos verdes e esperar um sorrisinho sacana em seu rosto, qualquer coisa que lhe arranhasse a máscara de “eu sou melhor que você” que inconscientemente vestia dia após dia.

Quando o conheci, nem sabia mais o que esperar da vida. Minha instabilidade emocional corroia-me dia após dia, talvez eu fosse meio masoquista, gostava de me machucar evitando os sentimentos certos e buscando relacionamentos auto-destrutivos. Com ele foi diferente. Ele não precisou de muito para que eu me envolvesse, assim como para tornar-se essencial em minha vida.

Era uma tarde modorrenta de verão, mais uma em que eu o encontrava na saída do prédio comercial moderno no centro da cidade, na minha imaginação parecia um garoto de programa com aqueles ternos caros e bem cortados, prostituindo-se em uma empresa para conquistar fama e fortuna. Eu, metida em minhas calças jeans e camisetas de estudante universitária, cumprimentei-o com um sorriso breve, logo retribuído.

Não que tivéssemos qualquer coisa, apenas rolava uma tensão resistível entre a gente. Talvez fosse a vontade de puxá-lo pela gravata e fazer sexo no meio da rua, sem me importar muito com convenções sociais, ou talvez a paz que ele me trazia com suas palavras cotidianas. Vizinhos de bairro, pegávamos o mesmo ônibus e quase fazíamos força para nos esbarrar o dia inteiro no horário de trabalho dele e de estudos meus. Acabamos descobrindo muito um do outro, acabei acreditando naquelas babaquices de igrejas, buquês e vestidos brancos, desde que fosse com ele. Tudo bem, sempre fui meio estranha e contraditória mesmo.

Conversávamos as bobagens de sempre, dessa vez qualquer coisa sobre Almodóvar. Não que eu soubesse muito mais do que o lido em capas de DVD’s e resenhas sobre seus filmes – e sabia que a recíproca era verdadeira - , mas para mostrar-me minimamente antenada com alguma coisa minimamente inteligente. Nem percebemos o céu fechado e muito menos o trovão, mas o assunto só saiu enlatado quando a chuva caiu forte.

- Trouxe uma sombrinha? – Ele disse olhando para mim.

- Não!

A solução foi nos abrigarmos debaixo de uma marquise. Era engraçado ver as pessoas correndo desesperadas fugindo das forças que agem acima de nós. A água caindo caudalosa, os pingos se espatifando no chão, nos telhados, em todos os lugares. E aqueles olhos verdes compenetrados na água que caía e no caos urbano instalado.

A vontade foi irresistível.

- Vamos!

Puxei-o pelo braço – a primeira vez que nos tocamos – e logo estávamos no meio da rua, tomando um belo banho de chuva. No começo, podia senti-lo hesitar, talvez medo de molhar o terno de marca, mas pouco depois, quando viu que já que estava na chuva era para se molhar, com o perdão do trocadilho e lugar-comum inevitáveis, resolveu se entregar. Olhei para trás, vi que ele sorria. Mais, que ria. Quase como uma criança grande brincando de executivo.

Ri de volta. Ríamos, nos molhávamos, ignorávamos os olhares de censura das pessoas na rua. Por um momento, pareceu que o mundo parou, apenas o gelado dos pingos atingindo a pele – e o quente de sua mão tocando a minha – importava. Por um momento, éramos duas crianças urbanas nadando em um mar de edifícios e confusões cotidianas.

Nunca tinha sentido que ele fosse tão humano, capaz de rir, brincar, brilhar os olhos. Parei, molhada, olhando para ele, sorrindo, encantada pelo seu jeito tão encantador. Ele me beijou de pronto, afogando-me com o mais saboroso dos beijos, enquanto eu estava sedenta pelo próximo. Beijávamos, consumíamos um ao outro, sentíamos a água, o tesão, tudo junto se acumulando de uma vez só.

Nossa primeira vez ocorreu pouco depois, sob as gotas quentes do chuveiro da casa dele.

***

Conto vomitado.
Diferente no estilo, mas pelo menos é algo coerente...

Tentando me reencontrar no meio de um Lego gigante de possibilidades...