- Mãe, cheguei!
Depois de um longo dia de aula, Marcelo não estava com muita paciência para esperar na sala até o almoço ficar pronto. Foi para o quarto rapidamente e atirou a mochila velha e surrada em um canto. Seu humor não era dos melhores, afinal tinha perdido três partidas de truco seguidas para aquele ladrão do Juninho em um dia só! Além do que, descobrira que tinha mais uma nota baixa de matemática para a coleção. Certamente tomaria uma senhora bronca quando o boletim chegasse.
Lembrou-se, porém, de que havia algo muito valioso em sua mochila. Puxou-a novamente e lá de dentro tirou um exemplar da Playboy com a Juliana Paes na capa. Ah... Nenhum amassadinho. Melhor assim. A tarde certamente seria divertida, a menos que a tonta da irmã inventasse de se trancar no banheiro para fazer escova no cabelo na sua frente. Colocou seu tesouro debaixo do travesseiro e se sentou na cama enquanto esperava ser chamado para o almoço.
Olhou para os tênis sujos e esburacados antes de suspirar resignado. Não era só por ter perdido no truco ou tirado nota baixa que estava triste, mas por ter visto Fernanda, aquela gracinha da oitava série, aos beijos com um mané qualquer do terceiro ano. O que aquele cara tinha melhor do que ele? Seria o fato de passar o resto da tarde na academia com mais um monte de idiotas que adoravam admirar seus músculos? Ou por já ter uma bela moto e freqüentar os melhores clubes da cidade? Talvez ser o artilheiro do time de futebol da escola e por conseqüência um dos alunos mais populares também ajudasse. Ou ainda – argh, como era difícil admitir isso – ser bonitão.
Olhou-se no espelho e tentou contrair o bíceps do braço direito, sem sucesso. Era magricelo, quase desaparecia dentro da blusa de uniforme e do bermudão. Era um jogador de futebol ótimo para a reserva, além de tirar notas baixas, ser pobre e não ter carro nenhum. Bonito? Até poderia ser simpático caso tivesse menos espinhas. É, realmente, o outro cara era melhor do que ele. Sem dúvidas.
A divagação terminou quando ouviu pancadas na porta do quarto. “O que eu fiz dessa vez?”, pensou rapidamente antes que a porta viesse abaixo e dois seguranças meio parecidos com guarda-roupas vestindo ternos entrarem e, sem perguntarem ou fazerem qualquer outro movimento, o suspendessem pelos ombros e levassem de casa, diante dos olhares atônitos de sua mãe e irmã.
- Que foi que eu fiz?
A resposta foi ser atirado no banco de trás de uma BMW preta, que deu a partida assim que cada um dos seguranças guarda-roupas se posicionou a seu lado. O que estava acontecendo, depois de perder no truco, sangrar o boletim e tomar um fora ainda estava sendo seqüestrado pela MIB? Ah não, já tinha ido longe demais o sonho, já estava na hora de acordar! E não podia admitir que estava apavorado com a situação!
- Alguém pode responder o que foi que eu fiz?
Nenhuma resposta.
- Pô, tio, diz pra mim o que foi que eu fiz! – Disse ele para um dos seguranças.
Um safanão foi o suficiente para mantê-lo em silêncio pelo resto do caminho. Agora sim Marcelo achou que poderia começar a ficar apavorado...
Percebeu que o carro tinha parado e, pelo que pôde observar, aquela era uma fábrica de cosméticos que havia na cidade. O motorista falou qualquer coisa com a pessoa no guichê de checagem e o carro continuou o percurso. Marcelo foi levado de uma maneira nada elegante para fora pelos dois seguranças e guiado por alguns corredores até um elevador.
A descida parecia infinita, mas quando o elevador finalmente parou, Marcelo pôde ter certeza de que ficar apavorado era uma boa idéia. Era uma sala gigante, com algumas pessoas andando de jaleco com pranchetas nas mãos entre alguns processadores e computadores que ele só vira igual nos filmes mais viajantes da TV. Logo na entrada da sala, uma mulher aparentando cerca de trinta anos, cabelos castanhos presos em um coque, óculos de armação grossa e um jaleco em cima de um vestido que realçava seu belo corpo:
- Bem-vindo, Marcelo.
- Quem é você, que lugar é esse e o que querem de mim?
- Não há razão para pressa. Considere-se um escolhido para o mais maravilhoso teste de todos.
- Escolhido? Teste? – Estava definitivamente e irremediavelmente apavorado.
- Somos do Conglomerado Reverie. O braço de cosméticos é apenas uma pequena fatia de todo o nosso poder, influência e atuação. Somos grandes investidores de tecnologia e, após anos de pesquisa, desenvolvimento e evolução da tecnologia, chegamos a um ponto inacreditável da produção de softwares, onde seremos capazes de recriar uma cidade inteiramente holográfica e fazer com que pessoas interajam por meio de realidade virtual com tal cenário. É a evolução natural de qualquer jogo massivo de multijogadores e, com nossa tecnologia três décadas adiantada do mercado, poderemos criar além de uma ilha de diversão onde milionários poderão escolher a programação de seu próprio jogo, estrangular a concorrência e compor um grande monopólio!
- Quê? – O garoto tinha a expressão clássica de quem não tinha entendido nada da conversa.
- Você foi convidado para jogar uma partida de videogame, resumindo.
- Mas eu não gosto de videogame, é coisa de nerd...
A pesquisadora deu um longo suspiro antes de prosseguir:
- Não é um convite que cabe a você recusar. Logo você e seus companheiros serão levados para a ilha de nossa base para poderem jogar.
- Companheiros?
- Sim, os outros convidados, dentro de logo eles vão chegar.
- Mas por que eu? – Marcelo disse, cada vez mais próximo do pânico.
- Porque, segundo a análise de nossos computadores a respeito de seus dados, você é um idiota completo. E como precisamos pesquisar todo tipo de público, sua ficha combinava muito bem para a amostragem.
- Ah, obrigado... – Era melhor entender aquilo como elogio. – Mas o que dirá para meus pais?
- Não se preocupe. Logo um funcionário de nossa companhia os procurará e fechará com eles um contrato, explicando a situação e evitando maiores dores de cabeça.
A campainha tocou na casa de dona Marilda, ainda apavorada com a invasão ocorrida pouco antes. Ao abrir a porta, deu de cara com outro estranho engravatado de óculos escuros, como aqueles que tinham levado o seu filho. Sem perguntar coisa alguma, ele disse:
- A senhora é a mãe de Marcelo dos Santos?
- Sim, eu mesma.
- Seu filho foi detido pela Agencia de Inteligência para responder a algumas perguntas. Segundo consta em nossos relatórios, ele está envolvido com facilitação de rotas internacionais de tráfico de drogas e deverá ficar detido até que tudo se resolva. Espero sua compreensão. Tenha um bom dia.
O engravatado entregou para dona Marilda um envelope com os dados sobre o caso e, enquanto ela olhava desesperada para o que tinha em mãos, saiu sem deixar vestígios.
Marcelo estava sentado, sob vigília dos seguranças, em algumas cadeiras no grande laboratório branco. Estava começando a cansar a vista toda aquela falta de cor e ainda não tinha entendido o que estava acontecendo. Então era jogar um jogo bobo e tudo estaria acabado? Então que viesse logo, daí tudo estaria terminado depressa e poderia voltar para a Juliana Paes.
Finalmente, depois que já tinha a certeza de que tinham esquecido-o ali, a mesma pesquisadora recebeu-o e pediu que a acompanhasse.
- Mas que história é essa de jogo?
- É muito simples, meu caro. Tenho de ver se você e seus companheiros sobreviverão a situações extremas. Quando todos estiverem juntos tudo será explicado com maiores detalhes, mas a maior regra é essa: você deve sobreviver.
O garoto engoliu em seco. A palavra “sobreviver” soava de uma maneira apavorante a ele naquele momento... E ele começou a sentir que o pânico começava a se apossar de seu corpo.
Definitivamente, aquele era um dia ruim.
***
OBS: nomes aleatórios. Nenhum personagem baseado em ninguém. =P
Essa é uma tentativa de fazer uma seriezinha sem muito compromisso com a seriedade. Quero ver se treino um pouco o humor negro e coloco situações mais próximas da bizarrice. Claro, com um mínimo de coerência lógico-textual, mas descompromissada mesmo. Quero ver se me divirto escrevendo e passo a sensação para vocês. Portanto, COMENTEM!
E até terça que vem! ^^
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4 comentários:
Ei, isso ESTÁ ÓTIMO!
EU QUERO VER O PRÓXIMO CAPÍTULO SEMANA QUE VEM!
Está muito bom,passa uma sensação de absudo muito forte, que a continuação venha logo!
Adorei! O clima de suspense deixa a gente com água na boca! Onde a estória vai desembocar???
Abraços
Muito legal o contrato firmado pela empresa e a familia... rsrsrsrsrs
Só espero que não vire Digimon... hauhauhauhauhauhauhau!
Bjus Ana, estarei esperando a continuação
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