sexta-feira, outubro 21, 2005

Terras Secretas - Capítulo 2: Problemas Com Máquinas

O calor estava infernal naquela tarde, mas pelo menos o ventilador ainda funcionava. Era a única coisa responsável por quebrar o silêncio naquele quarto, já que o aparelho de som tinha quebrado uma semana antes. Bom, pelo menos o técnico tinha agendado uma visita naquela tarde, então nos próximos dias isso seria um problema a menos.

Não que o adolescente naquele quarto estivesse se importando muito com isso naquele momento. Seus olhos brilhavam diante da tela do computador e seus dedos percorriam o teclado rapidamente e ansiosamente, esperando pela resposta de uma pergunta feita em um chat pouco antes.

“Não acredito! Essa gatinha linda caiu na minha conversa! Ela é tão lindinha, tão bonitinha! Vou me dar bem, issaê!!!! Agora é só marcar que dia vamos nos encontrar e... Ué, por que esse mouse não está respondendo? Funciona, droga, funciona, eu vou desencalhar finalmente! Funciona!”

Os vizinhos claramente puderam ouvir um grito ecoar por um raio de cinco quilômetros daquela casa. Não tinha conseguido entender como fizera aquilo, mas o mouse emperrara. Ao tentar fazê-lo funcionar, puxou com força o fio e desconectou o computador. Ao tentar reconectar o mouse, não entendeu muito bem o que fez, mas acabou derrubando a torre no chão e quebrando alguns componentes internos que definitivamente não sabia quais eram.

- Tão novinho, com cheirinho de coisa nova ainda! Eu não acredito, sou um idiota mesmo! Eu ia finalmente desencalhar, aquela menininha linda aceitou sair comigo mas nãããão, Murphy é apaixonado por mim, só pode ser isso! O que falta mais me acontecer hoje?

Antes que pudesse se dar conta que tinha dito a frase proibida, a campainha tocou. Antes de sair do quarto, tropeçou no ventilador, fazendo com que este se espatifasse no chão. “Bom, pelo menos o computador tá na garantia ainda...”. Atravessou a sala rapidamente e ao abrir a porta, deu de cara com um sujeito de terno preto, óculos escuros e tamanho guarda-roupa:

- Ué, agora a assistência técnica usa terno?

- O senhor é Igor Moreira?

- Eu mesmo... O aparelho de som está aqui dentro, é só...

Antes que Igor pudesse se virar, sentiu que uma forte mão segurava seu pulso. O segurança, sem alterar o tom monótono de voz ou a expressão facial inexpressiva, disse.

- Você nos acompanhará agora. É peça importante para nosso projeto.

Antes que pudesse reagir, o garoto foi jogado no banco de trás de uma BMW preta, que não demorou a dar partida. Teria chegado rápido ao seu destino caso não tivesse furado o pneu duas vezes, mas em pouco menos de uma hora atravessou os portões da fábrica de cosméticos do Conglomerado Reverie, talvez a mais importante fonte de emprego e renda da cidade. Todos os dias, às cinco da tarde, fumaça cor-de-rosa cobria os céus da cidade. Era do produto mais conhecido e importante da fábrica – os xampus de morango que além de deixarem os cabelos com novo brilho, eram comestíveis. Um pesquisador dissera que o uso do xampu e a incidência de casos de câncer estavam relacionados, mas curiosamente algumas semanas depois apareceu morto em um trágico caso de crime passional. Apenas coincidência, claro.

Igor foi levado pelos seguranças pelos corredores até um elevador – onde inexplicavelmente houve um pico de luz. Pouco depois, com os problemas já resolvidos, o garoto percebeu que estava em uma sala enorme, onde alguns pesquisadores de jalecos brancos carregando pranchetas iam de um lado para o outro entre os vários computadores de última geração, que nem em seus sonhos mais delirantes havia visto. Tudo ia em paz, exceto por uma lâmpada que explodiu e provocou alguns xingamentos de um dos pesquisadores, pouco adiante.

Esperando por ele, estava uma bela mulher de cerca de trinta anos, cabelos castanhos presos em um coque e óculos de armações grossas, com um sorriso no rosto.

- Seja bem-vindo, Igor.

- Que diabos de lugar é esse? Olha, se não podiam consertar o som, caso se sentiram ofendidos em serem chamados vinte e cinco vezes em um mês, não é culpa minha! Pagamos os serviços em dia, além disso...

- Silêncio. Não somos da assistência técnica do aparelho de som.

- Então quem vocês são para me tirarem de casa assim? Olha, meu computador quebrou, você não tem noção do esporro que eu vou tomar quando chegar em casa!

A cientista suspirou profundamente. Aquele dia estava sendo complicado, ou pediria um aumento para seus chefes ou adiantaria os planos de passar as férias em alguma ilhazinha simpática no mar Mediterrâneo.

- Você está aqui porque foi selecionado para um projeto muito importante do Conglomerado Reverie. Você foi convidado para os testes de nosso software de interação, afinal estamos testando a evolução natural dos MMORPG que revolucionará o mercado e nos colocará algumas décadas a frente da concorrência. É um projeto extremamente selecionado, portanto considere-se privilegiado por participar dele!

- Espere aí um pouco... MMORPG e software querem dizer que se trata de um jogo, certo?

- Certo.

- Um jogo on-line, talvez?

- Hum, pode-se dizer que sim.

- Olha, moça, então temos um problema... As máquinas não parecem gostar muito de mim, sempre tivemos problemas. Eu quebro tudo muito fácil e as coisas estragam só de eu olhar para elas! Sabe quantos liquidificadores precisamos comprar só esse ano? E lâmpadas? E fiações elétricas? Eu estava no meu terceiro computador!!! Olha, eu entendo sua situação, mas meu pai já está endividado demais para termos de cobrir prejuízos dos outros, ainda mais de uma empresa grande!

- Mas é justamente por isso que você foi convidado, Igor. Se o nosso sistema for suficientemente resistente a pessoas como você, significa que poderemos ampliar nossos mercados. Não precisa ter medo quanto a seus pais também, nesse momento eles devem estar recebendo um contrato explicando toda a situação e com as recompensas financeiras que receberão. – Disse a cientista com um sorriso no rosto, enquanto pensava no modelo de biquíni que compraria para aproveitar suas merecidas férias.


Em um escritório, um homem calmamente digitava um relatório. Coisa simples, dentro de alguns poucos minutos terminaria e poderia ir à sala do cafezinho. Estava especialmente cansado naquele dia, mas pelo menos já estava quase chegando o fim de semana. Ao terminar um dos últimos parágrafos, levantou os olhos do monitor e espreguiçou-se, apenas para perceber um homem, obviamente um segurança vestindo terno e óculos escuros, adentrar sua sala sem ao menos ter sido anunciado. Antes de pensar em passar uma descompostura em uma das recepcionistas, ele começou a falar.

- O senhor é Nelson Moreira?

- Sim, mas o senhor não foi anunciado e não deve entrar.

- Trago notícias de seu filho. – O tom de voz não se alterou e o homem, com movimentos duros como os de um robô, colocou um envelope sobre a mesa. – Ele foi detido sob a acusação de ter desfeito a rede de segurança de uma das mais importantes instituições bancárias do país. Está detido por tempo indeterminado para averiguação.Obrigado pela atenção. Tenha um bom dia.

O segurança saiu da sala da mesma maneira furtiva como entrou, deixando Nelson atônito. Seu filho... Preso? Por ter derrubado um sistema de segurança bancário? Onde tinha errado na educação dele, tinha o ensinado a fazer as coisas certas, por que isso agora?

Bom, pelo menos por alguns dias nenhum aparelho eletrônico estragaria em sua casa...


Igor estava sentado em uma cadeira confortável, imerso em pensamentos. Tudo aquilo era muito louco, isso sim! Convidado para testar um jogo de videogame momentos após ter quebrado seu computador! O computador, tinha se esquecido dele! Pois e, tinha perdido a oportunidade de sair com aquela gatinha. E de desencalhar.

Suspirou profundamente e espreguiçou-se. Ao se espreguiçar, uma de suas mãos se encontrou com o botão de um ar-condicionado pouco acima de sua cabeça, fazendo com que a máquina começasse a fazer barulhos estranhos e, poucos minutos depois, exalar um característico cheiro de queimado. Era só os donos da fábrica realmente não cobrarem que estava tudo muito bom, isso sim!

Dois seguranças apareceram pela porta e, sem muitas palavras, acompanharam-no até a saída da sala. “Sujou!”, não pôde deixar de pensar. Era só começar a torcer para não acontecer nada de errado com ele e nem com nenhuma máquina, porque algo lhe dizia que o pior ainda estava por vir...

***
Nomes aleatórios, reiterando.
Mais minissérie sexta que vem, mais contos na terça-feira ;-)

Então... Até terça ;-)

3 comentários:

Alexandre Lancaster disse...

Hm, legal novamente, mas cuidado para isso não virar uma fórmula e ficar repetitivo...

Anônimo disse...

Bem legal, mas mas a incapacidade com máquinas ficou um pouquinho forçada demais.

Anônimo disse...

Olá Ana, acabei de ler esta parte... não sei porque mas lembrei da Associação todos contra o GIMGIM... será que um dia até as maquinas faram parte dela?
rsrsrsrsrs