sábado, novembro 19, 2005

Terras Secretas: Capítulo 4 - A Chegada

Três pares de olhos atentos observavam as ondas do mar logo abaixo deles, o que causava uma certa sensação de desconforto momentâneo. Já fazia algumas horas que estavam naquele helicóptero, não estavam entendendo muito bem o que estava acontecendo, a única coisa que tinham certeza era de que o projeto Terras Secretas, tão falado por aqueles cientistas estranhos, tinha finalmente se iniciado. Melhor assim, quanto mais cedo começa, mais cedo termina; era o pensamento comum.

- Tô com fome. – Reclamou o adolescente magricelo de boné, apoiado em uma janela.

- E era ontem que finalmente José Manuel assumiria seu amor por Clara Regina e eu perdi o capítulo! – Uma adolescente gordinha disse, contrariada.

- Era ontem? E a Silvana, não tinha armado para Clara Regina e dito que estava esperando um filho do José Manuel? – Esquecendo-se da fome, Marcelo continuou a render o assunto.

- Não, no capítulo de anteontem o Ricardo a chantageou para que contasse o segredo para ele, assim os dois poderão juntos destruir Clara Regina e se apossar de sua fortuna!

- Ah, só...

Em seu canto, um adolescente ligeiramente acima do peso polia as grossas lentes de seus óculos com sua camiseta, suspirando profundamente ao ouvir o assunto discutido. Ignorância da massa cegada por tramas medíocres! Olhou rapidamente para seus braços após colocar os óculos. Tinha ouvido no dia anterior acerca de chips para interpretação da programação do jogo, mas não via marca nenhuma de onde poderiam ter sido implantados. Coisa estranha, não se lembrava de muita coisa também desde a reunião no dia anterior até o momento em que se dera conta de que estava em um helicóptero...

- Escutem... Acaso sentiram algum efeito colateral advindo da suposta incisão responsável pela implantação de chips em nosso organismo ontem?

- Putz, cara, do que que você ta falando? – Marcelo disse, erguendo uma sobrancelha inquisitoriamente.

- Acaso notou alguma reação anormal de seu organismo desde ontem?

- Pô cara, não tamos na escola não, não precisa falar essas coisas de matéria de aula que ninguém entende!

- Esquece, vai. – O garoto respondeu contrariado, voltando a procurar por alguma marca em seus pulsos. Teria de conviver com aquilo pelos próximos dias? A simples perspectiva lhe apavorava mais do que qualquer coisa que pudesse lhe ocorrer no tal jogo.

Por sua vez, uma menina morena adormecida encolhida na poltrona ouvia vozes ao longe... Talvez as vozes e o pequeno diálogo tinham despertado a voz de sua consciência. O que estava acontecendo? Tinha ido para a escola, depois saído com a Renata para o fliperama como sempre e depois... Não conseguia se recordar com exatidão. Parecia um sonho meio doido, tinha sido levada por seguranças até a fábrica de cosméticos, depois não conseguia se lembrar exatamente o que tinha acontecido. Ao abrir os olhos, sua mente demorou um pouco para interpretar o que estava acontecendo: Renata olhava para ela com uma expressão preocupada, dois meninos estranhos que nunca tinham visto olhavam pelas janelas e... hã... estava... em um... helicóptero?

- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?- Levantou em um pulo.

Os três outros acompanhantes do vôo assustaram-se com o grito repentino, enquanto Letícia se levantava e andava de um lado para o outro no exíguo vão entre as poltronas. O garoto de óculos no canto limitou-se a responder, com voz baixa e um tanto sarcástica:

- É tão complexo para um intelecto de indivíduos como vocês a simples percepção dos fatos? Estamos em um helicóptero em algum ponto sobre o Atlântico nesse momento.

- Não adianta vir bancar uma de cdf pra cima de mim não, seu idiota, não preciso desse blábláblá todo! – Letícia disse, avançando sobre ele já com os punhos fechados e se preparando para a pancada.

- Aqui não, sua maluca! – Marcelo puxou-a de volta para o banco. – Quer que a gente vire comida de tubarão?

- Letícia, ele tá certo, é melhor você ficar quieta agora, depois você resolve isso... – Renata disse, a preocupação totalmente perceptível em sua voz.

Ao perceber que realmente aquele não era momento de comprar brigas, a garota encolheu as pernas e abraçou-as em sue lugar, controlando-se para engolir toda a sua raiva. Era melhor chegarem onde quer que tivessem que chegar para depois acertar suas contas com aquele idiota que falava palavras complicadas só pra se mostrar.

Renata, por sua vez, olhava de um lado para o outro. Agora se lembrava, na reunião na noite anterior tinha um outro rapaz, mas só via aqueles dois ali! Será que estava enganada? Não, tinha certeza de que não, tinha visto!

***

Em algum ponto sobre o Atlântico, um helicóptero fazia barulhos ainda mais intensos do que o bater de hélices normal. Era pequeno, um modelo menor e mais antigo do que aquele em que os outros quatros jovens eram conduzidos até a ilha e estava sendo guiado pelo piloto automático. Havia apenas um tripulante a bordo, um garoto chamado Igor, que nesse momento, ao perceber além do barulho estranho um cheiro característico que queimado e ter a impressão de ter visto fumaça preta, teve por única reação ajoelhar-se no chão, juntar as mãos e dizer:

- Pai nosso que estais no céu...

Caso conseguisse terminar aquele dia vivo, já estaria muito satisfeito...

***

Depois de muito tempo e uma discussão produtiva entre Renata e Marcelo sobre fofocas de artistas – para desespero dos outros dois companheiros -, finalmente podiam ver um pontinho verde a frente que só fazia crescer. A noveleira, primeira a perceber a novidade, disse:

- Olhem, é a ilha!

- Finalmente – disse o menino de óculos.

- Já não era sem tempo – Letícia disse, ainda encolhida, sem olhar pela janela.

- Só, cara... – Marcelo comentou.

Quando finalmente se aproximaram, puderam ver várias árvores de um verde brilhante e convidativo, além de uma esplêndida cachoeira. Uma revoada de pássaros silvestres terminou de coroar o cenário perfeito, um ilha tropical paradisíaca bem ao gosto de milionários excêntricos construírem parques temáticos mais excêntricos ainda.

Sem maiores problemas o helicóptero aterrissou na pista de pouso e alguns seguranças meio parecidos com guarda-roupas padronizados abriram a porta do aparelho para que pudessem sair. Tudo dava a entender que eles estavam na cabine da máquina, mas eram tão discretos que nem se fizeram perceber...

A primeira reação de todos os quatro ao colocar finalmente os pés no solo foi arregalar os olhos para apreciar a bela vista – além de sentirem seus queixos caírem. Certamente era o lugar mais bonito que cada um deles já tinha visto na vida, era talvez o mais próximo do conceito comum de paraíso que podia haver. Só faltavam mesmo as palmeiras onde cantavam os sabiás, mas com sorte algum cientista do centro de observação se ateria a esse fato e as providenciaria.

Todo deslumbramento inicial foi rompido, porém, por um helicóptero meio torto, as asas com uma rotação estranha e muita fumaça e com o barulho característico de um fusca velho pousou e, mais do que depressa, um adolescente visivelmente aliviado abriu a porta - que se soltou e ficou no chão – e ajoelhou no solo, beijando-o sem parar:

- Senhor, obrigado pela graça alcançada... – Era tudo o que conseguia repetir.

Não demorou muito para que os seguranças o segurassem e levassem até junto de seus companheiros, jogando-o de qualquer jeito no chão, onde parou ajoelhado. Os outros quatro olharam espantados para a cena, ainda se acostumando com a idéia de estarem numa ilha paradisíaca após a longa viagem. Só foram definitivamente desligados do êxtase ao perceberem que os helicópteros davam partida e levantavam vôo, deixando-os sozinhos naquele lugar.

- Ei, esperem aí, vão nos deixar aqui desse jeito? – Letícia esbravejou.

- Pelo jeito já deixaram, né... – Renata comentou.

- Pô, cara... Que triste isso! – Resmungou Marcelo enquanto observava os helicópteros se tornarem pontinhos e posteriormente sumirem no horizonte.

- Obrigado, Deus, obrigado... – Era tudo o que Igor conseguia dizer.

O garoto de óculos, por sua vez, apenas suspirou. Após alguns minutos e a certeza de que ela aquilo mesmo, que realmente tinham sido deixados sozinhos naquele lugar, Igor puxou o assunto:

- Acho que seria legal nos apresentarmos... Meu nome é Igor.

- Marcelo.

- Renata.

- Letícia.

- Elton.

- E agora, o que fazemos? Uma fogueira, talvez? – Igor perguntou.

- E se tiver algum bicho perigoso aqui? – Marcelo perguntou, assustado.

- E você tem medo de bichos, sua frutinha? – Letícia disse, com um tom provocativo.

- Não sou frutinha!

- Ah, não... Nem chegou aqui e já está morrendo de medo de bichos!

- Quem deveria ter medo era você, você é menina, meninas têm medo de bichos!

- Eu vou te mostrar quem aqui tem medo de alguma coisa!

- Pessoal... – Renata disse antes da briga realmente esquentar. – Aquilo ali não é uma trilha?- Disse, apontando para uma direção.

- Talvez fosse conveniente segui-la. – Elton disse, coçando o queixo.

- Ta certo, cara. Vamos? – Igor disse, já seguindo na direção indicada.

Os cinco não mostraram resistência em segui-lo. A trilha era composta de pequenas pastilhas de pedra brilhantes, rodeada por florzinhas e vez ou outra eram acompanhados por borboletas. Não demorou muito para avistarem algumas construções que se pareciam com casas dispostas em um semicírculo, com um chafariz luminoso onde deveria ser o centro.

Apertaram o passo para chegar lá o mais rápido possível, mas foram surpreendidos por um acontecimento inesperado: na frente deles, onde antes não havia nada, materializou-se um ser grande, de pele escamosa, garras afiadas e grandes presas capazes de dilacerar corpos juvenis em questão de segundos!

- AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! – Foi a única reação dos cinco adolescentes.

***

Atrasado, mas aqui. ;-)

3 comentários:

Alexandre Lancaster disse...

Capítulo de transição, mas como eu já sei a surpresa... eu me diverti PACAS com essa cena. ;)

Anônimo disse...

Olá Ana,
Goste do texto só da uma olhada que tem algumas palavras escritas erradas coisa boba, viu?
Estarei aqui como sempre para ler suas estórias, viu?
Abraços,

Anônimo disse...

Muito bom, bastante engraçado.